A primeira coisa que a gente estranha é que tudo é feito por carta. Você sai da urgência médica com seu filho e eles dizem que não precisa pagar: a fatura vai chegar na sua casa, por carta. E você vai mandar o cheque pra eles, por carta. Tipo você está lá. Você poderia pagar lá. Mas não é assim que funciona.
Às cartas juntam-se os dossiês. Para tudo na França existe um dossiê. Um para inscrição na faculdade, outro pra parcelar a compra dos móveis, e o mais novo, que eu vou abrir essa semana: um dossiê para requisitar diploma. Por dossiê entenda-se um formulário gigantesco, ao qual anexam-se pelo menos três cópias de documentos diferentes. Para requisitar um diploma. Na minha própria faculdade, onde eu já estudo há um ano. Onde já existe pelo menos dois dossiês diferentes no meu nome.
Porque essa semana eu fui fazer a reinscrição no segundo ano do mestrado. Na mesma faculdade. Para o mesmo curso. Na secretaria do meu curso peguei um papel amarelo, preenchi, devolvi pro secretário, que recolheu três assinaturas diferentes. De posse deste documento preciosíssimo, peguei um novo dossiê numa sala do prédio principal da universidade, preenchi suas quatro páginas, tirei cópias de documentos. Depois precisei ir em uma seção escondidíssima, que fica em um corredor sem nome e numa sala cuja numeração não obedece nenhum padrão minimamente lógico, para pegar meu boletim de notas. De posse dele, fui em outra sala, fiz outra fila, entreguei tudo. A moça me deu um papel, eu fui em outra sala, fiz outra fila para pagar a inscrição. A moça me deu outro papel, eu fiz outra fila e atualizei minha carteira de estudante num terminal de auto-atendimento super moderno.
Como nada disso me surpreende mais eu simplesmente abanava os pensamentos de que no Brasil tudo é feito pela internet, sem sair de casa. Houve um único momento em que eu ousei questionar todo o processo pra um dos burocratas do outro lado da mesa. Se a gente está no mesmo prédio, por que é que a pessoa que vai fazer minha inscrição não pode ela mesma ter acesso ao meu boletim? A resposta: realmente, seria mais prático. Quem sabe no futuro.
Meu pai aqui, hein?, ficaria rico.
10 comentários:
Carol, do lado de cá também é meio assim!!! Outro dia para conseguir me matricular na universidade foi um parto parecido e não consegui!!! Sem falar na burocracia da imigração. Eu já tinha o green card, estou renovando e mudando o sobrenome porque agora estou casada com um americano. Ai, ai, ai....Mas, olha, o consulado brasileiro não fica atrás. Eles não fazem nada via internet, algumas coisas por carta e o resto só pessoalmente. E aqui no Arizona não tem um, o mais próximo fica em Los Angeles!!! Paciência é uma arte, né?!!! bjs
Aqui, o que mais me espanta é o sistema bancário. Anos luz dos sistemas informatizados do Brasil. Eu coloquei a tv a cabo no débito automático no banco. Vc não acredita, sabe como isso acontece? Todo mês, o banco manda um cheque, pelo correio (sim, eu disse UM CHEQUE PELO CORREIO) para a Comcast! Aff... e depois chamam de primeiro mundo. hehehe
De tanto ter que mandar carta pra todo lado, eu ja' tenho varios modelinhos prontos recheados de "formules de politesse", um para cada situação. Concordo que é lento e da' uma trabalheira, mas até que as coisas funcionam!
Mas a burocracia, a França é campeã, não tem pra ninguem. Cada vez que eu tenho que renovar o meu titre de séjour (apenas renovar!) tenho que perder 4 manhãs de trabalho e tirar xerox de 20 documentos. E quando fica pronto ja' é quase a hora de ter que renovar novamente...
Vocês deviam aproveitar que vivem nos Correios daí e mandar uma cartinha para nós que quase não usamos os Correios daqui! :)
Olha só: no domingo fez um ano que a gente se encontrou lá em Lisboa. Deu uma saudade gigante de vocês! Foi bão demais! Beijo nos quatro!
Acho que palavra burocracia, inclusive, tem origem francesa (de bureau), não é?
Aqui a gente é atrasado em muitas coisas, mas os sistemas de informática para alguns serviços (Eleição, acompanhamento de procesos pela web) são de primeiro mundo ainda.
Beijocas
PS: O Dante dança Latino em fim de festa. Ele e a digníssima.
Ué, eu achava que nós, tupiniquins, tínhamos sido colonizados pelos portugueses...
Hoje é festa lá no meu apê...
pena q não deu pra te encontrar no Quartier Latin. Nem visitar o 16ème. Fui uma turista apressada em Paris. Entendi perfeitamente a chatice dos frances com os turistas. Senti até um pouco de nojo de mim mesma. Mas chegarei por aí novamente, num outro momento, pra passar bem mais do q seis dias corridos.
bjosssss
=)
E eu não comecei um post (que ainda não acabei) sobre isso uns dias atrás? É engraçado como a gente vai tendo as mesmas impressões, ao mesmo tempo, sobre a vida por aqui.
Beijocas mil.
Ola Carol!
voce não me conhece, achei seu blog em outro blog, o paris na linha.
também faço mestrado na França (Paris) e ja estou soterrada em dossiers e papiers!!!
Queria te perguntar: seus filhos estão na escola? Como vc conseguiu vaga pra eles? Estou gravida de seis meses e ja and preocupada com isso por amigas minhas que moram aqui disseram que a fila de espera das garderies é longa! como foi a sua experiência com isso?
Tudo de bom para vc!!
Mariana.
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