Me tirem daqui

A gente faz esse nosso discursinho barato mas na prática a gente compra, compra, compra e compra. E quando não compra fica suspirando porque queria ter comprado: como é que eu vou passar o réveillon sem um vestido novo? Aquela loja está com tudo a 50%, e se o modelito da minha vida estivesse logo ali esperando por mim?

Pra mim ficou tudo mais visível esse ano porque eu não participei da maratona. Eu não tinha tantos presentes assim para comprar, ficava vendo as pessoas enlouquecidas com mil sacolas e me lembrei de uma coisa nada a ver: da minha amiga de infância que tem agonia de muito bicho igual junto. Tipo um formigueiro, uma colméia, ela não gosta de ver. O caso dela é especialmente engraçado porque se aplica também a bichinhos fofos, tipo um monte de coelhinho junto, mas isso não vem ao caso. Vem ao caso que dentro da H&M me deu uma agonia dessas. Agonia daquelas coisas todas juntas, e as pessoas agarradas às coisas como se a blusa fosse o olhar perdido do marido; a saia, a promoção no trabalho; o vestido aberto nas costas fosse o namorado em potencial que ninguém sabe onde está. Não me perguntem porque, mas me veio à mente a imagem de um açougue cheio de carne pendurada, ou o formigueiro da minha amiga. Aquele monte de pano lá, que aflição.

A culpa é do capitalismo, sim, mas a gente é cúmplice. De vez em quando é preciso sair da loucura pra gente não perder o referencial. O resultado é que decidi passar o ano novo com uma roupa linda mas que é metade preta. Só tomara que não dê azar.