quarta-feira, janeiro 28, 2009

Os livros ruins

Eu ganhei uma dupla de livros ruins recentemente sobre os quais ando debruçada com gosto. Tenho plena consciência do tamanho da descortesia desta frase, como de qualquer outra que encadeasse ao verbo ganhar o adjetivo ruim, mas antes que meus amores se entristeçam comigo me deixa esclarecer meu conceito de livro ruim.

Eu faço um mestrado em literatura, onde, óbvio, só entra livro bom. De cada parágrafo de um livro bom é possível se escrever páginas e páginas de análises densas, desvendando intertextualidades, esclarecendo o que o autor quis dizer com determinado objeto que surge do nada na narrativa ou simplesmente interpretando ao seu bel prazer, o que é super autorizado ao seleto grupo de analistas literários do qual eu me esforço muito para um dia pertencer. Em literatura lusófona, o seleto grupo é unânime ao colar a etiqueta de livro bom nas obras de Saramago, Lobo Antunes, Clarice Lispector. Da nova geração brasileira, Milton Hatoum – mas, olha, ainda aí, tem gente que torce o nariz.

Eis que de repente, no auge da minha produção dos trabalhos de final de semestre, dois livros ruins me caem às mãos. Na verdade, foram três, mas um foi muito rápido (a dona o recuperou antes mesmo que eu tivesse a chance de). Como metrô serve mesmo pra isso, eles mergulharam na minha bolsa gigante e só saíram dela devidamente devorados. Eu li os livros ruins com colher de sobremesa, perdoando as obviedades, suspirando desaprovativa a cada vez que a Cris Guerra empregava o verbo sorver, me divertindo com as narrativas e, admito, super me identificando com as personagens – o que é totalmente não-recomendável no caso dos livros bons (livro bom é feito para a fruição, não para terapia).

Acontece que eu estou bem precisando de terapia e os livros ruins me caíram do céu. Além de me abrirem uma nesga de esperança da realização do meu projeto de vida, a saber, ser nomeada para a ABL aos 40 anos. Tipo se quem escreve não tão bem escreve mesmo assim, então por que não eu, aa-ha, por que não eu? Eles mexeram com minhas expectativas, e de repente escrever um livro ruim passou a me parecer um projeto de vida mais palatável ao invés. Afinal de contas, tem tanta gente que escreve mal na ABL.

28 comentários:

Mari disse...

hahahahah...
tem mesmo!!!
livro ruim:devore sem culpa!!!
(contanto que haja ainda um tempinho para os bons também...)
tudo de bom Carol!!!
bjuus

m. disse...

olha a esperança se renovando. eu quero escrever também, penso que será um trabalho paralelo ao meu. mas os dois prometem tão pouco retorno que acho que precisarei de um terceiro trabalho pra criar as crianças, sabe?

Chéri disse...

Na verdade, é cada vez mais complicado achar gente que escreve bem na ABL. E essa história de livro ruim/livro bom é super relativo. Tem muito livro bom que é bem ruim de ler. E tem muito livro ruim que é super bom.

Beijos!

Anônimo disse...

Desculpe-me pelo comentário, mas você faz mestrado de literatura "ONDE" só entram livros bons? No mestrado, em você ou faltou "na minha biblioteca" para você usar o ONDE, que exige (veja bem, exige) um lugar para complementar seu sentido? OK, você é muito jovem, respeito e já tive a fase em que a gente se acha o máximo e a autocrítica fica em último lugar em nossa vida (antes vem - caiu o cincunflexo - as baladas, os amigos, os interesses pessoais, os auto-elogios, etc...), mas sugiro que você dê uma revisada em seu texto, porque é bom e é fácil escrever bem, mas precisa (mesmo) de autocrítica. Pode parecer antipático este comentário, por isso me desculpei no início, mas não pude deixar de dar o toque... sorry!

Leandro Wirz disse...

Carol, esquece o A e o B e concentra no L, de Letras, de Livros, e publica antes dos 40 um livro ruim, deliciosamente gostoso de ser lido.

Anônimo disse...

Cara, que pedante esse(a) Sil. Esse comentário do "você é muito jovem" é o típico comentário babaca, de alguém que se acha muito superior por ter alguns (ou muitos, sei lá) anos a mais.

Se é pra ter autocrítica e ficar chato(a) como ele(a), é melhor ficar mesmo sem nenhuma.

Anônimo disse...

Depois que Roberto Justus virou cantor e Bruno Surfistinha autora de best-seller, tudo e todos podem.

Bailarina disse...

Carol,

O livro que te falei no email entra perfeitamente nessa sua descrição! rs

Bjo,

Vivi

Anônimo disse...

Lindinha, você errou mesmo usando o "onde", mas é um erro tão comum hoje que, daqui a pouco, deixa de ser errado usar "onde" sem estar se referindo a um lugar. Além do mais, seu texto é tão delicioso que suplanta esses pequenos equívocos. Agora, o/a tal do Sil está mal informado/a sobre a reforma ortográfica. O circunflexo só caiu nos verbos que dobram o "e" e "o". O circunflexo do plural dos verbos ver e ter não caiu não.
Beijos e feliz ano novo (ainda está em tempo!),
Alê

Princess Deluxxe disse...

eita, estamos numa fase bem parecida então? vc tá bem mais à frente, já q estuda mesmo sobre a profissão literária. ai mim, me resta alguns livros do Raimundo Carrero, rsrsrs
ABL aos 40? eu ficaria feliz se tivesse conseguido publicar aos 30.
=)
bjosss

Anônimo disse...

Carol,
Deixa teu coração te levar. A razão não vai te levar a lugar nenhum. Ajuda a encaminhar a iniciação dos filhos, mas só a iniciação...
O que li dos posts acima me levam a entender que eles tem a razão, talvez não tão felizes.

Carlos de Floripa

G disse...

Oi Carol!

Olha, eu curto tanto os seus textos que te garanto que compraria e leria com prazer um livro seu, ainda que ele não faça parte do seleto grupo de "livros bons" (será que a Clarice ou o Saramago sempre estiveram lá?) ou que você use "onde" errado (o tipinho chato esse Sil, hein?!). Publica! Publica! Publica!
E quanto à ABL, só tenho uma coisa a dizer, nunca duvide de si mesma! Hehehe...

bjos

Dante Accioly disse...

Ei, cumade. Chega aí. Bora tomar umas no Beirute!

Unknown disse...

Sim, tem gente demais escrevendo mal na ABL. Aliás, acho que o Saramago escreve SUPER mal, e está aí por questões políticas; bem, minha análise! Mas por que não se debruçar mais alguns anos em estudos para tentar escrever um bom livro?! É como um amigo escritor me diz, certeiro, que quando sentamos para escrever temos de achar que escrevemos uma obra prima (sem hífen), mas com as devidas autocríticas para não escrever besteiras ou livro ruins... por que de livros ruins... meu deus... o mundo e principalmente o Brasil contemporâneo estão cheios! Beijos.

Anônimo disse...

Dante, tô dentro. Com esse calorão sugiro um chopp trinacando de gelado lá no Bar Brasília.

Anônimo disse...

O tal "livro bom" exige um bocado, você não quer perder os detalhes, quer compreender a fundo e empestear a alma com a narrativa... já o livro ruim é companheiro do balanço do metrô, de barulho, você dá risada, se identifica, acha tolo e é puro deleite.

E no final sabe (ou tenta) que não serviu pra nada. É tipo ir pra escola e não estudar. Você ainda tem a pachorra de achar que não é de todo mal.

Ana Pereira disse...

Doidinha!! Você já vai publicar um livro agora, desenhado por mim e inspirado pela mais linda pessoa da família: vovó! ;) hahahahah.
Beijoka!

Dante Accioly disse...

Eu não te convidei, Renato. Convidei a cumade! KKKKK!!!!! :)

Carol Nogueira disse...

O Zuenir Ventura uma vez escreveu que o problema da ironia é que a gente tem que combinar com o leitor. Só pra deixar claro que eu não nutro a mais remota esperança de ser de fato nomeada para a ABL, menos ainda antes dos 40. O que não me impede de fazer disso meu projeto de vida. Segundo os livros ruins, se a gente sonha com o impossível realiza o melhor possível.

Felipe disse...

Era só o que faltava agora a gente ter que ser impecável no português para poder criticar um livro. SE fosse assim, eu nao poderia falar mal de nenhum jogador de futebol, já que não jogo porra nenhuma, sou um zero a esquerda com a bola nos pés. Ou não poderia achar nenhum filme ruim, porque não sou cineasta nem pretendo sê-lo.

Sobre livros ruins, eu tenho lido muitos livros (a maioria bons) e minha pilha dos "a ler" já passou de dez. Mas tô num ritmo voraz. Agora, um ruim que eu li foi do Andre Midani, sobre Música, MP3 e Download (pelo menos é o que dizia na capa). O livro é bobo, fraco, muito pessoal e até com "agradecimentos" e citações dentro do texto.

Terrível!!!

Em compensação, li o clássico "A Sangue Frio" do Capotte outro dia. 600 páginas em 5 dias. Até que passar o réveillon em Brasília foi produtivo...

Volta logo do Recife para a gente se encontrar.

Beijocas

Ana Chalub disse...

no fim das contas, fiz bem ou mal?

Ana Chalub disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

ai, que saco esse/a tal de "sil". muito o típico jornalista velho e invejoso! carol, vc não me conhece, mas sempre leio o seu blog, vc é muito fofa! =)
ps: sou também jornalista, jovem (hehe) e faço mestrado em literatura!

Anônimo disse...

cadê você?

Anônimo disse...

Ca, muito bom ler você às vinte e três horas e cinquenta e nove minutos de um dia qualquer, meio cansativo, "onde" encontrei palavras, comentarios e análises bem interessantes e deliciosas, como em alguns bons livros que ja li (e tambem na Vida Simples) que vão me ajudar a ter uma noite de sono bem relaxada...e esperando vocês chegarem, com muitas saudades...

Anônimo disse...

Querida, escreva o livro e não se preocupe em explicar quando está ou não sendo irônica (quantas vezes em seu mestrado de livros bons - sorte sua - vc não demorou horas sobre linhas para puxar o que de irônico havia nelas?). Só corre riscos quem ousa se mostrar...
Ass: Cibelle

Késia Chiarelli disse...

Perdoe as poucas palavras e o pouco tempo para escrever (gastei-o lendo e passeando pelos seus posts).

Gostei muito do site.
Certas vezes um livrinho mais "água com açucar" cai bem.

Caso goste de crônicas, dá uma espiadinha no meu blog.


Abraço

Anônimo disse...

O comentário,com ou sem acento?de Sil é certamente o mais chato que já li.
Primeiro porque ele ou ela usa o termo "veja bem".Não tem nada mais irritante que isso.E no final termina com "sorry",uma palavra inglesa pra criticar um texto em Português.
Ah,toma jeito moleque ou moleca.