Que não sou elegante, está patente. Alguém com o meu tamanho já se acostumou a não ter essa qualidade associada a si. Quando era pequena (ou menor ainda), meu diâmetro me metia em embrulhadas muito mais vezes do que eu merecia – mas com o tempo (e menos quilos) aprendi a controlar minha vocação para o desastre.
Acontece que toda primeira vez envolve mãos que não sabem muito bem para onde ir. E quando na primeira vez em questão há também novos gadgets a serem manipulados, minha antiga vocação mostra todo seu potencial. Foi assim na minha iniciação à biblioteca mais fantástica onde já estive na vida – a BNF. Para ter acesso àquele templo high-tech da informação, a pessoa precisa manejar muitas novidades ao mesmo tempo.
É preciso deixar sua bolsa, pegar o papelzinho do vestiário, não perder o papelzinho do vestiário, colocar os pertences numa pasta transparente onde, óbvio, não cabe o meu computador nem todos os livros que eu preciso ter comigo (mesmo sem às vezes precisar de todos eles, mas porque me dá segurança), lembrar de pegar a carteirinha da BNF que será usada um milhão de vezes durante o dia para entrar, sair, pedir livro, recuperar livro, fazer pesquisa, entrar na internet, enfim, para respirar, depois usar a carteirinha para fazer rodar a catraca, descer as escadas-rolantes saídas direto do Guerra nas Estrelas, usar a carteirinha para reservar a mesa, para fazer rodar a outra catraca, depois encontrar minha mesa, deixar minhas coisas, ir pegar o antifurto, lembrar de que preciso da carteirinha para pegar o antifurto, pegar a carteirinha e conseguir o antifurto e aí,
no ponto alto da minha deselegância flagrante,
durante cinco minutos que pareceram horas, ficar de pé no meio daquele mar de mesas e pessoas concentradas e mergulhadas
no mais sepulcral dos silêncios, tentando desenrolar o fio do computador e o fio do antifurto para depois passar uma coisa por dentro da outra e por fim instalar os dois, fio e antifurto, na tomada da mesa.
E só então
sentar, respirar e escrever – calma, sábia e elegantemente.
O que me consola é que um dia eu vi a Mônica Valdvogel falar que sua maior ambição em termos de elegância era a cena inicial de
Bonequinha de Luxo, em que Audrey Hepburn abre o saquinho do lanche para viagem, tira de lá um croissant, segura-o com a boca enquanto tira o café do saquinho, passa o copo para a mão que segura o saquinho, com a outra mão recupera o croissant e, com a ponta dos dedos, tira a tampa do copo que joga dentro do saquinho, para, depois, alternar goles de café e
mordidas no croissant –
tudo isso de roupa de festa, jóias, salto e Moon River.
Acontece que a própria Mônica Valdvogel já me é uma ambição bem boa em termos de elegância – e se ela se impressiona com a cena do filme, pensando que jamais conseguiria manejar tudo aquilo sem derramar café, deixar alguma coisa cair no chão, se sujar, se engasgar... pode ser que ninguém tenha reparado em mim toda embolada nos meus fios hoje de tarde.
10 comentários:
Eu sou o Major Desastre. Não tenho habilidade manual pra fazer nada. Ou melhor, QUASE nada. Ja ate escrevi sobre isso tambem.
Agora, sobre elegancia, sou pior ainda. Odeio roupas, modas, combinações, etc. E sempre pago de Jeca Tatu aqui no trabalho quando me meto a usar gravata. Ou camisa de gola, em que aperto até o ultimo botao, sem a gravata. E até hoje nao sei se o botão que tem que ficar desapertado no paletó é o de cima ou o de baixo.
Sem falar nas camisas sociais manchadas que eu insisto em usar e só reparo que tem um rasgão debaixo do prato ou umas manchas de graxa quando estou na sala do Presidente da Agência.
Afi...
beijocas
oi carol,
obrigada pelo comentário no meu cantinho. um prazer recebê-la por lá.faz um tempinho que acompanho le croissant...mas sempre quietinha. enfim...enchantée. fê
Minina, que ginástica!!! Olha, eu acho que todo esse procedimento pra entrar na biblioteca cria potenciais desastres...e se isso consola, por onde vou quebro alguma coisa (e nunca a coisa é minha, esse é o problema...)
Bjos!
Olá, Carol
No começo do seu texto, você faz alusão a sua altura. Tomou-me de assalto os versos de Fernando Pessoa: ...sou do tamanho do que vejo/E não do tamanho da minha altura.
E o poeta luso não saiu da minha mente ao continuar a ler seu texto, sua pugna contra desastres e pretensa falta de elegância: Para ser grande sê inteiro: nada/Teu exagera ou exclui./Sê todo em cada coisa. Põe quanto és/ No mínimo que fazes./Assim em cada lago a lua toda/Brilha, porque alta vive.
Versos de um poeta que, como você, era um talentoso baixinho.
Um grande abraço!
Sidnei (baixinho e atrapalhado)
foi ótimo rever a cena de bonequinha de luxo!!!
Oi, Carolina,
é a primeira vez que passo por aqui. Decidi comentar porque eu, além de baixinha e atrapalhada, frequento a BNF diariamente e sequer sabia da existência desses antifurtos...pra vc ver.
Também adorei rever a Bonequinha de luxo.
Abçs,
Juliana.
Oi linda. Desculpe entrar aqui para isso. Mas estava lendo um perfil no orkut, e encontrei um escrito de perfil, que achei muito bem elaborado por ser de quem era, como essa mesma pessoa ja roubou perfil meu, copiei um trecho do perfil e busquei na net. Quando não dou de cara com uma postagem SUA de quando seus bebês nasceram... Fiquei indignada...essas coisas a gente deve criar. Tem que vir da alma, como foi no seu caso. Veja aqui o plágio: http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?rl=mp&uid=2581748294238226274
Desculpe mesmo lindinha, dei uma olhada no seu blog PARABENS, vc é muito criativa e espontânea!!!
Vou passar por aqui as vezes!!
Beijos,
Tê
Tê,
Eu achei muito engraçado o meu texto no perfil daquela moça. Por um lado, é legal ver que a gente transmite uma idéia que se encaixa no que a outra pessoa está sentindo. Por outro, seria bacana da parte dela ter colocado meu nome ali, não é? Não custaria nada pra ela. Mas paciência.
Adorei seu recadinho super fofo e espero que volte sempre.
E prefira não ligar para o que gente sem originalidade faz, boba. Não dê ibope pra ela.
Beijo pra você, pra Juliana, pra minha amada Chalubete, pro Sidney, pra Aline, pra Fê e pro Fê. E pra todos os outros!
querida amiga "desastrina",
foi impossível não lembrar de vc hoje, quando tentava tirar meu documento da bolsa no check-in do aeroporto de bh com minha mochila de viagem, uma bolsa térmica com um 'quêjo minêro', um casaco, um cachecol, uma grade de proteção que uso por causa da brigitte e a própria cã dentro de uma caixa de transporte. bom que, no fim, deu tudo certo...
beijoooo!
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