terça-feira, maio 26, 2009

Nuvem de fumaça

Por mais ultrapassado que pareça, o cigarro preserva aqui em Paris aquele charme de meados do século passado – quando mulher fumava para mostrar que pode. Aqui, o adolescente começa a fumar aos dezesseis anos para mostrar que pode – e de fato pode, porque é com essa idade que passa a ser permitido comprar. E depois não pára mais.

Chega a ser engraçada a inversão de valores: politicamente incorreta, por aqui, é a campanha anti-tabagista. Tipo essa semana, quando alguém ousou apagar o célebre cachimbo do cartaz do Jacques Tati de um cartaz no metrô. Resultado: até a ministra da Saúde (juro!) entrou em campo para reclamar. Saiu hoje a decisão da autoridade de regulação publicitária dizendo que ninguém mexa no cachimbo de Tati nem no cigarro de Coco. Mesmo dia em que o Ministério da Saúde anunciou que vai colocar suas estampinhas trágicas (já bem conhecidas no Brasil) nos pacotes de cigarro. Ou seja: assustar os pessoas, vale, mas por favor, não toquem no glamour.

Quando eu cheguei por aqui, o cigarro tinha acabado de ser proibido nas estações de metrô – isso tem dois anos. Nos bares (mesmo fechados), ainda era permitido. Quando proibiram, a turma reclamou mas se acostumou: ficou divertido frequentar os fumódromos improvisados em cada porta de bar, onde eles podem nos xingar à vontade – para desespero de quem mora em cima.

Eu achei que já tinha visto de tudo nessa polêmica até tropeçar na fotinho aí em cima, tirada de um blog que eu adoro. A autora escreve, costura, tricota, faz belas fotos e ainda cria a linda Adèle e o fofo Émile. Quando fantasiou a mocinha de Coco Chanel, inspirada pelo filme, não hesitou por nem um segundo em colocar um cigarro de mentirinha como parte do cenário. Nem ela nem nenhum dos leitores ressaltou o fato. Eu, até agora, não sei se acho ousado ou maluco.

15 comentários:

Felipe disse...

Eu fico puto quando as medidas anti-tabagistas daqui são criticadas como autoritárias pelos meus arrogantes amigos fumantes. Adoro ele, mas, desculpa, acho cigarro nojento, sem charme algum e já deixei de me interessar por mulher porque ela fumava sem parar.

Graças a Deus, hoje posso ir a vários pubs e inferninhos e voltar com a camisa zerada e sem aquela oleosidade tosca no cabelo. E com os olhos da mesma cor que vieram ao mundo.

Fumar é nogento e é clichê dizer "que o direito de um termina quando começa o do outro". Mas não tem nada a ver com alcoolismo. Se um alcoólatra vomita no meu pé, aí sim manda prender, expulsa o cara do lugar etc. Agora aguentar nuvem de fumaça ou ambiente em que nego fuma é simplesmente insuportável.

Sei como é aí na Europa porque quando fiz um curso de inglês na Inglaterra com meus inocntes 15 anos, até hoje me lembro das meninas de 13 e 14 fumando compulsivamente, exatamente para chocar, como você falou. Mas totalmente deselegantes e sem glamour algum.

Numa boa, charme zero. Se frances curte isso, que pena deles.

Beijocas!!!

Leandro Wirz disse...

Carol, sintonia temática. Ontem à noite, postei lá no mar de coisa sobre o tabagismo e a cruzada do Serra.
Ousada a foto com a menina. Mas reprovável em função da idade. A idade média de início do tabagismo no Brasil é de 13 anos, mas em camadas mais desfavorecidas da população não é tão raro encontrar fumantes a partir dos 6 anos.
Bem, eu sou um fumante que está sem cigarro há 2 anos e meio. Mas fumar é uma delícia. Respeitando-se, claro, os direitos dos não-fumantes que não querem fumar passivamente, nem ficar com cheiro de cigarro, nem respirar fumaça. E como sou antigo, continuo associando o fumo ao glamour e ao charme. Beijo.

Aline disse...

Eu odeio quando sou conservadora, mas confesso que a montagem me assustou mesmo... eu continuo não achando chic fumar...

Carol Nogueira disse...

Mas Aline...
Você não "fumou" os cigarrinhos de chocolate Pan quando era pequena?
É, sim, esquisito. Parece, sim, um estímulo. Mas às vezes eu acho que a patrulha anti-tabagista brasileira também anda ávida demais (viu a loucura do Serra, em Sampa? - vai no blog do Leandro!).

déborah nogueira disse...

como não estou muito pra polêmicas nos últimos tempos, vou comentar sobre como os filhos da moça do site que você adora parecem saídos de um editorial de moda infantil e como a casa dela parece um liindo estúdio de fotografia de comerciais de margarina! as fotos dela são realmente lindas! apesar disso, muito feia e chocante a foto da Adèle fumando!

Gil Sampaio disse...

Imparcial como a boa jornalista que é, Carol deixa para os leitores a deliciosa tarefa de interferir na obra, não é por menos que essa menina está estudando arte. A necessidade do artista de conseguir uma transformação no outro, mesmo que por poucos segundos, é essencial.

Concordo que ninguém tem que ser fumante passivo e nego qualquer atitude que possa influenciar a decisão de quem ainda é muito novo para fazer suas próprias escolhas, penso que para mãe de Adèle só faltou-lhe um pouco de criatividade e sobrou-lhe literalidade, atitude que pode reforçar para a criança a imagem glamourosa do tabagismo, que o cinema já vende a pouco mais de um século. Lembro da frase de um presidente americano que após a crise de 29 disse: “Onde nossos filmes forem nossos produtos também irão”. E foram! E um deles foi o cigarrinho. As pessoas lindas são lindas fumando ou não e sinceramente não vou deixar de ir naquela festa incrível com ótimos DJ’s e pessoas interressantes e lindas só porque minha camisa zerada vai ficar cheirando a cigarro e meu cabelo vai ficar tosco e oleoso. Algumas atitudes contra, quando carregam uma carga muito pesada de revolta, tendem a estar ligadas as nossas próprias frustrações.

Ps: Eu não fumo.

Aline disse...

É Carol, eu fumei mesmo os cigarrinhos de chocolate Pan e me achava o máximo...

Realmente a patrulha anti-tabagista anda neurótica e eu não me importo de fumarem ao meu lado,nem das festinhas regadas a cigarro, mas o meu problema é interior!

Eu só admito que fiquei chocada com uma menininha com cigarro na boca...talvez eu tenha que trabalhar mais isso...

Felipe disse...

Eu não deixo de conviver com quem fuma (isso seria ignorante) ou deixo de ir a lugares onde as pessoas fumam. Até porque adoro inferninhos e pubs. Mas que é beeeeem mais agradável chegar em casa sem os olhos ardidos e sem ter de tomar um banho ou botar a calça, a camisa, a cueca, a meia e o tênis pra lavar por conta da nhaca de fumaça, ah, isso é. Não tenha dúvida.

Feio e fedido!!!

Beijocasssss

Jamilly Morello disse...

Carol, é mesmo assustador ver essas crianças Parainenses fumando,pois o cigarro tanto pra mulheres ou jovens pra muitos significam''poder'' ou ''charme''.As medidas anti-tabagistas no Brasil são forçadamente e induzidas a praticar esse tipo de apelo,porque o fabricante não vai deixar de produzir,mesmo com esse aumento nos cigarros,muitas pessoas ainda não desistiram e também a nova lei nas grandes cidades de não fumar em boates,bares e uma infinidade de lugar,podendo somente no meio da rua e em suas residências e ai como fica o vicío?Há pessoas que não gostam e outras que nem se importam com a fumaça,basta cada um ter a consciência do que estar fazendo com sua própria saúde e de quem estiver ao seu lado.
O caso da menina acho normal essustador,pois o mundo de hoje é bem diferente,as crianças estão começando tudo muito cedo.Não só as de Paris,mais de todo os lugares, eu acho super normal.Ah começo várias pessoas que foram pra Paris e fumaram o cigarro de Chocolate e os outros milhares de tipos.

FULANA E SICRANA disse...

Gostei da foto não. Chocante.
Confesso que sou meio careta e fico meio intrigada como as pessoas começam a fumar hoje em dia. Antigamente tinha todo um charme, um coisa moderna, todos queriam fumar para provar uma certa independência. Mas hoje não. Todos fumam, não tem mais charme nenhum, temos consciência de todo o mal que faz, então sinceramente não entendo. E concordo com Felipe. Destesto chegar em casa com o cabelo com um cheiro insuportável e com a roupa que eu tenho que tirar e deixar fora do quarto para conseguir dormir.
E além do mais não sou obrigada a fumar por tabela. Em locais abertos tudo bem, mas em locais fechados sou contra mesmo.

Beijos,

Sicrana

Ana Chalub disse...

não sou fumante, mas respeito quem é e acho um exagero proibir cigarro em pub, bar, qualquer lugar aonde se vá para se divertir e que envolva álcool. também adoro chegar em casa e não ter que pôr a roupa pra tirar o cheiro, mas não concordo com a proibição.

sobre a foto, não gostei. acho a imagem forte. acho que é um estímulo para as crianças. seja publicitária, particular ou jornalística.

Nilson disse...

Sou muito a favor da proibição do fumo em lugares fechados, quem é contra e gosta de fumar por tabela que comece a fumar logo então.

E achei a foto ridícula, expor a criança a uma influência de um mercado que ela nem tem noção do que significa.

B A R N A Z A R disse...

No conjunto união, para que haja conjunto união, deve prevalecer o critério mais restritivo ... Se alguém que respira e fuma (seja o que for) quer colocar se em harmonia e união com quem apenas respire a regra será apenas respirar... simples a matemática ... A diversidade deve encontrar espaço próprio em harmonia com o campo de unidade ... Se uma pessoa deseja fumar deve encontrar espaço de maneira a isentar (ao máximo) quem não queira fumar da imposição de sua escolha ... Quem queira fumar fume em seu espaço privado ou num espaço privado declaradamente fumante e consciente de que ainda nesse formato estará invadindo a escolha dos outros em algo pois o ar que nós partilhamos que entra no corpo do fumante e no corpo do não-fumante se afeta pela realidade de um e do outro (dentro dos corpos)... O ar que visita o corpo de um fumante se afeta pelo fumo e passará a trazer em si um pouco do fumo quando for visitar o corpo de um não-fumante ...
Bom, a sociedade humana é o conjunto união de todos os conjuntos de seres humanos ... e pode e deve ter uma intenção comum (qual será ?!) ... Possivelmente algo essencialmente importante para todos (fumantes, não fumantes e etc) ... possivelmente algo que justifique o trabalho de respeitar verdadeiramente ...

Tais disse...

No meu primeiro mês aqui em Paris, lembro de ter ficado tão chocada vendo um menino que parecia ter uns 10 anos fumando, que tropecei e fiz um belo hamatoma na perna. Quando vi as fotos da menininha, confesso que também estranhei bastante e acho que muitos brasileiros reagiriam assim. Mas li os comentarios e vi que, realmente, ninguém falou desse "detalhe". Curiosas essas diferenças culturais.
Conheci seu blog faz pouco tempo e achei muito bom. Parabéns pelos textos!

Anônimo disse...

Olá. fico muito feliz com esse seu post. Acho as campanha anti-tabagistas do Brasil um exagero, como também acho um exagero fumar até explodir. hehehehe. Bom senso, tem coisa muito pior que fumo como libertinagem e falta de vergonha na cara, e bandalheira que vira o carnavel e disso ninguêm reclama. Vamos ter temperança em tudo, inclusive no fumo, mas vamos respeitar a liberdade.