Quando o garçom atende com impaciência e fica brabo porque o brasileiro pediu (em inglês) para trocar três ingredientes da salada, a pessoa pensa que confirmou a fama do parisiense de mal-educado e grosso. E sai falando: o parisiense é grosso, sim!, eu vi.
Viu nada. O garçom francês tem pressa porque muitas vezes está sozinho para para servir uma sala inteira. E, como todo mundo, ele gosta de ser bem tratado na sua própria casa, espera que o turista aprenda duas palavrinhas de francês antes de vir visitá-la. Sivuplé, merci etc.
No caso clássico do restaurante normalmente não há nada da genuina grosseria parisiense. Ah, turista, se você soubesse...
Se você entendesse francês, se fosse obrigado a lidar burocraticamente com alguns dos tipos que pululam por essa cidade, determinados a maltratar o primeiro desavisado que lhes passa pela frente, engajados a vomitar detestabilidades simplesmente para esconder seu complexo de inferioridade, fiéis praticantes do ataque como a melhor defesa - daí você entenderia realmente do que se trata a grosseria de que se fala aqui em Paris.
Felizmente esses tipos não estão em todo canto. Ao contrário: em todo canto há o francês gentil, amável, curioso, engraçado - e quase sempre apressado, é verdade. É preciso dar um certo azar para encontrar um enculé pela frente. Mas quando se encontra...
Há três anos em Paris, já me acostumei a muita bomba. Já ouvi grito do entregador de compras do Carrefour, já fui fisicamente expulsa de uma secretaria da universidade. Eu - que sou uma banana completa, uma boba, uma flor distribuidora de sorrisos. Eu - que, sinceramente, não mereço ser maltratada do nada.
Estou estupefata de ver que eles ainda conseguem me fazer chorar.
PS: Um mês de Brasil, hein?, vai me cair bem. Que Deus me dê pela frente uma atendente de padaria que queira ser minha amiga e pergunte meu signo. Amém.
16 comentários:
Muito bom! So quem passa por isso sabe a tortura que é. Estou passando pelo processo de novo, e ja estou me descabelando mais uma vez.
é Carol, quando a gente pensa que se acostumou...tcharam! alguém se supera e nos surpreende! é como eu sempre digo: essa cidade te esbofeteia e abraça todos os dias!
Aproveita la no Brasil, passa voando!
bjus!
Esse lance de ser característica do povo, ser o jeito deles para mim não cola. É falta de educação pura e simples mesmo.
Beijocas e até semana que vem!
ah mas se eu soubesse quem te fez chorar... ah, se eu soubesse!!
(seu mês no Brasil vai ME fazer bem!) mil beijos, fofa! Sassá!
É Carol. Sei bem do que você está falando. Troca o francês por italiano e Paris por Roma e pronto, estou eu no seu lugar! Aprendi aqui, a duras penas, que simpatia muitas vezes é vista como sinal de fraqueza, e que se você sorri "demais" (pra dar um bom dia/pra pedir licença/pra pedir pra passar), é porque você tem problemas de retardamento mental.
Sabe a minha pequena vingança? Fico ainda mais doce e distribuo ainda mais sorrisos! Não vai ser um "Giuseppe Nessuno" que vai acabar com o meu dia, né? A vontade de chorar vem, mas dou um tranco e faço ela virar choro de dó da pessoa amargurada que não vê as coisas bonitas da vida!
Beijinhos e muitas atendentes de caixa simpáticas pra você, viu?
Boa viagem!! Eh hoje, né? Aproveita muito!
Bem vinda a terrinha para recarregar as energias e que os dias passem bem lentamente.
Bjs
Kia
Et qui a osé dire qu’un croissant n’avait pas deux faces ?
Ce que me plaît c’est que l’auteur de cette excellente manière de comprendre la vie le fait en ne perdant pas de vue les deux faces de la même monnaie. Sans complaisance . . .
S’il vous plaît, passe un mois de rêves et tout le trálálá, mais reviens-nous entière et lucide comme tu vas partir.
Bonnes vacances !
Vou ser uma voz discordante por aqui. É verdade que o brasileiro é o homem-cordial e o parisiense tem uma maneira totalmente diferente de tratar o outro, mas sabe que eu gostei d+ quando estive aí, do: "Bonjour Madamme, Bonsoir Mon sieur". Por aqui muitas vezes a moça da padaria finge que não te viu, claro que tem aqueles garçons gentilíssimos que fazem piada de futebol e tal, mas a politesse française tem tb seu charme!!!
Carol, sou parecida com você quando sou maltratada, mas o fato é que não só em Paris encontramos pessoas grosseiras, aqui no Brasil há pessoas assim também. Parece que o estresse da cidade grande contaminou a todos. Nós não somos assim por natureza, mas a corrida louca que vivemos no cotidiano nos transformam. As duas vezes que estive em Paris não fui maltratada, ao contrário, fui bem atendida. Tive sorte. Beijo!
Oi, Carol!
Meu nome é Ana Luisa e sou de Brasília (moro no Lago Norte). Eu e meu noivo vamos comemorar, em março, meu aniversário de 30 anos em Paris, e por isso acompanho seu blog já há algum tempo. Gosto da forma simples que você escreve.
Sou veterinária (embora atualmente seja servidora pública federal) e por isso gostaria de visitar o Zoo de Paris. Vimos no site que o Zoo encontra-se fechado. Pensamos que fosse por causa do inverno, mas mandamos um e-mail perguntando quando reabriria e a resposta oficial foi que o Zoo estará fechado até 2014!!! Você saberia dizer o porquê?
Por favor, ajude uma brasileira ávida por conhecer profundamente Paris!!!! Risos!
Beijos!
zoo fechado para reforma, mas sem dinheiro para fazê-la.
zoo fechado para reforma, mas sem dinheiro para fazê-la.
Carol, no Brasil tb. passamos por isso...O pessoal está bastante grosseiro, parece que revoltado, sei lá! O "brasileiro cordial" parece que está em extinção...E a grosseria e falta de educação em alta!
Amei esse post!
Carol
Sei que este post já é meio antigo, mas há mais de uma hora leio o seu blog sem parar.
Cheguei aqui através do guia de Paris...
Adorei a súplica para encontar uma atendente de padaria que queira ser sua amiga... Muito sutil e profundo.
Parabéns pelo blog! Parabéns pelo exercício diário da sublimação - a maternidade.
Se é que serve, eu quero ser sua amiga... e afinal, qual o seu signo (háháhá).
Abraço.
Ellen
www.ocotidianoextrarodinário.blogspot.com
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