terça-feira, maio 04, 2010

Impressionantemente doméstico

Descobri em Giverny que eu tinha inventado um enredo para os cenários retratados por Monet em suas telas. Eu nem sabia que tinha feito isso, mas eu tinha. Acho que é assim que nascem as lorotas - bastava ter passado minha ficção subliminar pra frente.

No meu cenário impressionista imaginado, um belo dia Claude Monet sairia num passeio solitário para pensar na vida, caminhando pelo campo, nos arredores de uma casa onde teria ido passar o final de semana numa reunião de família aborrecidíssima. Fugindo de conversas chatas que se alongavam na sala de visitas, ele teria se afastado do território conhecido e, num momento fulgurante, teria se deparado com a impressionante paisagem do lago das ninféias e a da ponte japonesa, que ele pintaria e repintaria até morrer, atravessando pântanos e outras paisagens inóspitas carregado de telas e tintas e cavaletes.

Pois não foi nada disso que aconteceu. Não posso nem me dar o direito de me decepcionar - eu tinha feito de Monet personagem principal de um romance do século XIX por minha conta e risco.

Depois de batalhar muito como pintor, ser recusado em vários salões de arte, ele finalmente tinha conquistado um comprador interessado em sua obra que lhe dava algum para viver. Foi assim que finalmente ele arrecadou o suficiente para comprar uma propriedade em Giverny, na Normandia, onde construiu, plantou e fez crescer cada florzinha do lindo jardim que ele mais tarde retratou (trocadilho de novo, posso?) impressionantemente.

Meio sem charme essa vida real, não?

Mas duas conclusões fundamentais: quer uma musa inspiradora?, trabalhe duro para construi-la. Dois: não é preciso atravessar pântanos selvagens nem cruzar os sete mares - quem sabe o que quer muda o curso do mundo do quintal de casa mesmo. Vá lá e faça.

7 comentários:

Mari disse...

Um dos passeios mais legais que eu fiz por aqui de longe... Agora na primavera então, deve estar lindo de morrer!

bjus!

ricardo disse...

sabe Carol, apesar de gostar muito de Monet( L'Orangerie é um dos meus museus queridinhos ), prefiro ir para Rouen sem parar em Giverny. Ver o papagaio do Flaubert me parece mais legal (tenho uma foto minha com o papagaio, que era brasileiro ) se achar, te mando. Beijo !

Solange disse...

Já leu (ou 'investiu' para o futuro dos guris - eu fiz mto isso c/ a filhota) Linéia no Jardim de Monet? http://compare.buscape.com.br/lineia-no-jardim-de-monet-christina-bjork-8528100340.html

Ana Duarte disse...

Oi Carol, acompanho sempre seu blog e adoro!! acho até que você se lembra de mim: a doida que esta sempre desesperada por causa do mémoire!!kkk entao eu fiz meu blog estes dias e postei também um passeio que fiz à Giverny...adorei esse lugar e o jardim florido é magico.
Bjos

Anônimo disse...

"impressionante" seria VOCÊ pintada em um autoretrato...

RC disse...

Gosto da vida real. Não há nada mais incrível. Ou melhor, inacreditável.

Aline disse...

Vou seguir a sua dica Carol: vou lá e fazer... acho que o texto foi pra mim (ai, às vezes eu fico arrogante!). HOje tava aqui quase desistindo dos meus desafios, me fazendo de coitada e esperando cair do céu... cai nada, né...