Há mais ou menos um mês Dona Dal me mandou um email perguntando como ficaria minha participação no Maria, o site de moda para o qual eu costumava colaborar. Em toda sua queridice e gentileza, era um dá-ou-desce com doces palavras.
Ela tinha razão. Eu estava sumida há décadas.
Respondi um email impregnado de ideologia anti-consumismo. Andei me questionando profundamente. A moda não combina mais comigo. Tantas coisas para pensar. Um mundo para se reformar e nós aqui falando de roupas. Coisas. Não dá. Etc.
Corta para a última semana de soldes. Uma passadinha nas lojas, não por impulso consumista (eu?, imagina!, não combina mais comigo! etc) mas porque roupas são necessárias, não é?, eu vou andar pelada por aí?, e daqui a uma semana vai estar tudo muito mais caro, blabla.
Foi quando nos encontramos. Eu e a saia perfeita. Ela lá no cabide, me esperando. Meu número – literalmente.
Cintura alta. Pala em V (aprendi aos oito anos que pala em V emagrece). Três pregas de um lado. Três de outro. Completamente formalizável com um belo top. Completamente informalizável com tênis. Tudo isso em sua casa por apenas quinze euros.
E foi assim o triste fim de uma certeza absoluta.
13 comentários:
ah, Carol... essa coisa de certeza é que é meio terrorismo consumista, né? Aproveite o modelito e vá lutar por uma boa causa!
beijo
Sabe o que mata mesmo?! Saber que esta saia perfeita foi muito provavelmente feita com mão de obra escrava lá na Asia....por isto ela custa apenas 15 euros e por isto ela é retrato de um lado bem feio de todo este consumismo que você quer rejeitar. A moda vai ser responsável por você descartar sua saia daqui há alguns anos, mas o sistema econômico, político e principalmente o seu ato de compra como participante deste sistema também tem sua parcela de culpa. Se fossemos consumistas mais conscientes de nossas compras já ajudaria um bocado. Ah, este discurso é para mim mesmo, afinal eu resistiria a uma saia perfeita e por um preço tão bacana?! Dificilmente, não! Dá pra ver que você procurou muito por um modelo assim, e vai usá-la bastante, por várias estações, até ficar bem velhinha, quando vai doá-la para alguém. Já é um tipo de consciência não?! rs.
Fato é: não culpe a moda. Você sempre curtiu expressar seu comportamento através da moda. A moda, como linguagem, sempre foi parte de você. O consumismo capitalista desenfreado talvez não! As roupas, inclusive esta saia que você comprou, falam mais do mundo que você tanto quer reformar do que imagina, não?! Eu e meus pensamentos sobre moda. rs! Adorei o post, e ficou lindo o modelito!
hahahaha!!! Adorei!
A vida é assim mesmo: cheia de certezas absolutas que vão e que vem HAHAHA Tá linda, Carolaine. Grande beijo.
Esse papo "cabeça" de que a moda é uma forma de linguagem é o maior bla-bla-bla; ou, se preferirem, é para poucos. O consumo consciente é bacana, mas passa por outras mediações, por questões bem objetivas. Reformar o mundo, por outro lado, é olhar, escutar e amar o outro pelo que ele é - pelo que ele fala, escreve, lê, pensa, ama, odeia. Valorizar o "ser", ao invés do "ter", este é o salto. Sobretudo porque, ja dizia minha avo, as aparências enganam. Mas a humanidade chega la. Tenho certeza (quase absoluta).
Valeu, Carolina.
Zé Ricardo (recém-chegado a Paris).
Sabe o q eu mais gosto sobre a moda? Qd alguém aproveita o fato de q precisa se vestir pra fazer arte, pra contar pro mundo como a vida eh bela! Na mesma certeza q teve a natureza ao se desenvolver: festejou com cores e formas essa experiência! Esse mundo precisa ser reformado, claro. Mas eu adoro qd alguém resolve seguir o conselho da natureza e fazer tudo isso com beleza!
Prima, se moda eh linguagem, o seu gosto fashion sempre me diz sobre a sua alegria, e isso me deixa feliz! Poxa, já melhora o meu mundo íntimo, ne?! Vou adorar te ver feliz com a nova saia! Bjo, Mari
Defender causas nobres: sempre! Certeza (quase absoluta)!
Quanto à moda, difícil não cair em tentação quando nos deparamos com algo que queremos muito. E se barato, melhor ainda!
Bj,Carol.
Se minha mulher vem falando de "pala em V", eu corto a mesada dela! HAHAHA
Que título bom. Bom d+. Pode ser o subtítulo de muitos nomes, tipo: Maria: aqui jaz uma certeza (absoluta).
Nada como uma peça de roupa incrível para desmontar pilhas de ideologia politica/ econômica/ ecológica-mente correta.
Escrevi algo sobre o tema em: http://varaldedentro.blogspot.com/2010/05/tsp-l.html
Continuo lendo e adorando o blog.
Mirabelle
Carol,
Encontrei no meio das minhas (desorganizadas) anotaçoes uma citaçao de Yasujiro Ozu - cineastra japones) que talvez possa ajudar nas suas reflexoes: "Mes règles de vie son simples: pour les choses qui n'en valent pas la peine, suivre la mode, pour les choses importantes, suivre la morale; et pour l'art, ne suivre que soit".
Um abraço
Que a tal certeza absoluta descanse em paz. Porque é melhor viver sem elas.
No mais, viva o consumo. Sem a chatíssima e improdutiva culpa.
Margareth, queria ter seu email pra responder como deve ser, porque eu adorei sua frase. Conheci Ozu do "L'élégance de l'herisson" e agora me deu mais vontade ainda de ver seus filmes. Se por acaso essa mensagem na garrafa chegar até você, que fita você me indica?
E beijos a todos e todas.
Ola, Carol!
Bem, sem duvida alguma eu indico "Voyage à Tokyo" (Era uma vez em Tokyo) como sendo um bom 'começo?, pois existem outros filmes tb muito recomendaveis.
Se vc chegar a ver mais de um filme de Ozu, notara que a tematica nao varia muito, o que acho genial, e a simplicidade e a poesia sao sempre privilegiadas.
Se puder, apos ver o filme,me diga o que achou.
Abraços,
Margareth
meu email: margarethli@yahoo.com
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