terça-feira, dezembro 07, 2010

Minhas xicrinhas


O Wirz nem sabe, mas todo meu trauma de consumo nasceu com Les Choses, de Georges Perec.

Esse livro vai no fígado.

Ele te descreve, a você mesmo, aí, que está lendo, quando está naquele momento especial, fruindo suas coisas. Suas coisas que você ama.

Escrito em pleno 1965, o primeiro livro do gênio te descreve, cercado de todas as coisas que você adora, falando das coisas que te fazem feliz e, caralho (os palavrões neste blog são reservados a momentos especiais), necessariamente te impele a uma certa agonia a esse seu desespero acumulador.

É impossível terminar o livro sem se perguntar: eu preciso de tudo isso?

Desde então, eu bem que tento me controlar, mas quase sempre sem sucesso.

Há um mês, mais ou menos, comprei um conjunto de chá dos anos cinquenta. Uma barganha. Imperdível. (E esses argumentos só aumentam o nível da minha inserção no sistema capitalista-consumista.)

A cada vez que meus amigos chegam em casa, fico me exibindo com minhas xícaras de porcelana francesa (antiga). E no silêncio da minha casa, às sextas-feiras, me faço um chá, sozinha, numa xicrinha que certamente faria minha vó Kilda sorrir.

Acontece que meu jogo de chá antigo é uma dessas coisas de que a gente não precisa. Mas quer. Porque quer.

Minha sorte é o Beto. Que me disse:

Quando a gente compra essas xicrinhas não está comprando xicrinhas. Está comprando a ideia de uma casa quentinha, acolhedora, um bom papo enquanto a água ferve.

Entendeu?

Dá licença, então - que eu vou beber um chazinho charmoso numa casa quentinha.

8 comentários:

Erika Fazito disse...

E elas são lindaaaaaaas. Eu tb quero pq quero.

luiza disse...

eu acho q além de comprar xicaras, vc está comprando uma parte do passado. Ao comprar essas xícars vc está dialogando com sua vovózinha de uma certa forma...
Existem coisas q são supérfulas sim, mas essas xícaras não o são, elas fazem parte de uma História (com H maiúsculo)!
bjsss
ps: e adorei a xicara!!!
lu

machay disse...

Grande Beto que tem a sensibilidade de ver alem. Outra coisa acredito que os objetos antigos trazem suas energias. Foram as xicrinhas que escolheram vc.Bjs
Kia

ricardo disse...

sou comprador de mugs em lojinhas de museu... tenho cura ?

ricardo disse...

sou comprador de mugs em lojinhas de museu... tenho cura ?

Leandro Wirz disse...

Obrigado pela honrosa citação como sujeito pró-consumo. O que me incomoda, Carol, é um certo tipo de discurso que demoniza o consumo, como se fosse moralmente incorreto. E eu detesto moralismos baratos.
Em todos os campos, o supérfluo é também - e paradoxalmente - essencial e necessário. "A gente não quer só comida..."
No mais, desfrute de suas xícaras, e do prazer que delas advêm. Quando eu for à Paris, me convida para um chá. Na sequencia, uma cigarrilha sabor baunilha. Ah, e o Beto sabe das coisas.

ana senn disse...

Carol, esse texto me tocou de forma particular. Estou toda de acordo com o Beto. Enquanto mestranda em cultura da alimentação (e cada vez mais apaixondada por isso), devo dizer que as suas xicrinhas não tem preço. O que faz delas serem o que são não foi o que você pagou, mas o que elas significam, quando a gente come (ou bebe), não se trata de comida, mas de sentimentos. Te desejo excelentes momentos com suas xicrinhas. =) Beijo grande.

Anônimo disse...

boca linda...unha suja...