Eu vou embora de Paris e não vai fazer o menor sentido continuar escrevendo um blog chamado Le Croissant. Sempre odiei wannabes que esquecem as palavras na própria língua materna depois de vinte dias de férias em Orlando e eis que me metamorfoseei em um deles - já vai bastar aos meus amigos ter de aturar os "oh-la" que eu solto a cada cinco minutos, manter ad eternum um blog para nutrir esporadicamente meu amor por Paris seria um pouco demais.
Eu vou parar de falar de Paris um dia. Mas acontece que esse dia ainda não chegou.
Ensaiei alguns posts de despedida, mas cada vez que eu abria a boca saía umas frases tão sofridas que eu fiquei com vergonha. A medida da dor, me sussurra o Paulo Mendes Campos cada vez que eu começo.
Ao mesmo tempo, me martela na cabeça que um dos maiores arrependimentos da minha vida foi nunca ter comemorado como devia o sucesso no concurso que mudou minha vida. A cada etapa que passava eu me dizia: melhor não cantar vitória. De alegria economizada em alegria economizada, fui nomeada com a sensação de que o tempo de comemorar tinha passado. E eu acho isso terrivelmente melancólico.
Eu vou embora de Paris, sabe? A fase de negar já passou. Já consigo encontrar lugares onde gostaria de estar em seguida e até ensaio gostar da ideia. Penso nisso o tempo todo, mas tenho vivido nas últimas semanas como se nada estivesse acontecendo - trabalhando, me trancando em casa para desenhar, fingindo ignorar que do outro lado da janela está... Paris.
Eu preciso me despedir direito. Já adianto, vai ser feio, vão e imodesto. Mas dá licença: eu vou sofrer.
16 comentários:
Vc sempre terá Paris.
Excelente seu texto, assim como o do Paulo Mendes Campos que vc cita.
Aproveite cada momento, inclusive com a legítima dor. Tudo passa. Mesmo. E ainda bem.
Ai, que azar que eu tive de descobrir o seu blog só agora que ele está prestes a ser extinto. Diga-se de passagem, cheguei aqui pelo ChezToi :)
Bem... pra minha sorte tem uma infinidade de textos bacanas para eu me deliciar :)
boa sorte com todas as mudanças que está prestes a passar!
Beijos brazucas desde Lisboa
chorei.
sim aos recomeços com as bagagens boas que levamos das experiências anteriores. (<---- tentativa de ser madura, pq a verdade é que vc vai fazer muita falta!)
ananima r.
É duro, Carol! Muito, mas MUITO duro!
Beijos,
Bia (atualmente fazendo o trânsito de Barcelona para Bsb)
Que pena Carol . Conheci seu blog há
pouco tempo, mas já li todos, desde
quando os meninos eram bebês.
Não acaba com ele não, muda de nome.
Se vc viesse para minha terra iria sugerir
"Le Pão de Queijo". Beijos . Denise
Há dois anos atrás eu me despedia de Paris e sofria. Citei um post seu no meu blog e vc acabou me deixando um comentário fofo que me fez sorrir. Então, tento aqui retribuir: é difícil, mas uma hora essa dor toda passa e a gente até aprende a ser feliz em outro lugar. :)
beijo grande!
Fê
Ai Carol, confesso que fico contaminada pela tua despedida. ja fico imaginando quando eu estiver deixando Paris. A tua despedida, a despedida do LeCroissant vai ser a despedida de uma fase minha aqui: a fase em que eu acreditava que poderia ficar. Estou agora bem convencida que não vai ser possivel mesmo.
Pode sofrer, pode exagerar, pode cair de cabeça na feiurice. Afinal é o fim de uma era...
;°)
não venho aqui todo dia, mas hj eu dei uma passadinha...
triste. triste.
já tô até com saudade antes da hora.
beijo.
sorte!
:-(
Força aí.
Bj
Rita
Carol,
curta a dor enquanto pode porque rapidinho ela cede espaço às delícias da volta pra casa =)
E aí, fazfavor de arrumar um blog novo pra esta leitora desconhecida não se sentir órfã...
Beijos,
Cristina
Não penso....toco minha vida normalmente, porque quando tento pensar no que eu gostaria de visitar de novo em Paris para me despedir me sinto impotente. Na verdade, o que eu gostaria mesmo era de viver TUDO de novo...mas não dá né...Melhor tocar a rotina fingindo que nada está acontecendo. Boa volta Carol! emiliana
Eu sempre fiquei meio assim quando alguém diz: é, mas a vida continua, né!? (variação: a vida precisa continuar, né!?). E quem disse que a vida continua (do mesmo jeito)? Sofre, sim. A vida nunca mais será a mesma (pode ser até melhor)!
Quando comecei a esboçar um projeto que parecia beirar o impossível (estudar em Paris), abri uma pastinha "França" no meu "favoritos", e este foi um dos primeiros blogs que adicionei (havia "te conhecido" no Blog do Noblat).
Durante quase dois anos, vivi o dia a dia de(em) Paris através de suas narrativas.
Salvei várias dicas.
Muita vezes me peguei como se você fosse uma velha conhecida com quem partilharia Paris. Imaginei-me indo aos lugares que você indicou e lá te encontrando - até cair a ficha: sim, Pedro Bó, e como você irá reconhecê-la?
(Estranha sensação de sentir-me íntimo de quem não conheço; eu que sou tão reservado, introspectivo mesmo, um tanto bicho do mato.)
Com você, e nesses lugares, dividiria minhas impressões, recolheria novas sugestões e falaríamos da vida.
Veja que coisa, não?
Pois, bem: cheguei faz pouco mais de um mês (mal me livrei do Ofii).
E você se vai.
Suponho que sua tristeza seja inversamente proporcional à alegria dos amigos e familiares que ansiosos te aguardam.
Felicidades!
Au revoir!
Carol, como vários outros aqui, não te conheço, mas acompanho seu blog há um bom tempo. Não para não, muda o nome, o desenho, a cor das letras, mas continue.
Brasília é uma cidade bem interessante, dará bons posts.
Ah...e não a Brasília dos jornais, mas aquela dos moradores, das quadras, dos parques e do sorvete de tapioca da Saborela.
Ronaldo
Não dá para só adaptar à nova língua? Algo como La Foccacia? Das Brot?
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