Eram três e pouca da manhã e, do lado de dentro do prédio, eu tentava fazer um dos meninos dormir. Do lado de fora, uma menina voltava, sozinha, de alguma balada. Caminhava despretensiosamente, sem saber ela que estava prestes a me ensinar algo importante sobre o meu país.
Bem defronte à minha janela fica um prédio de mureta baixa. Lá estava a mocinha, vinte e poucos anos, talvez nem isso, voltando de sua baladinha, passos lentos e despreocupados, como quem passeia no parque em plena tarde de domingo. Sei lá se o Ipod tocou uma música de que ela não gostava, sei lá se acabou a pilha, sei lá se caiu o fio. Só sei que, redifone na cabeça, ela parou embaixo da minha janela, apoiou a bolsa na muretinha, vasculhou o que tinha lá dentro, tirou alguns itens e colocou na muretinha, achou o Ipod, resolveu o que tinha de resolver com ele, guardou tudo de novo na bolsa e voltou a caminhar tranqüila e serenamente.
Eu já tive vinte e poucos anos no Brasil. Já saí pra várias baladinhas e voltei às três e pouca da manhã. E vou te contar uma coisa: deve ser bom à beça ignorar solenemente a violência.
Há 5 anos
12 comentários:
Fiquei arrepiada com o seu texto. Aqui no Brasil, mesmo nas cidades de interior, como no meu caso, voltar para casa às três e pouca da manhã é sempre preocupante e aterrorizador.
Sozinha ou acompanhada, sempre de carro, fico olhando para todos os lados, atenta a qualquer pessoa ou movimento estranho.
Senti uma pontinha de inveja dessa menina de "vinte e poucos anos, talvez nem isso".
Beijos.
Sicrana
Infelizmente acho que esta tranquilidade a gente aprende na infancia porque não importan onde eu esteja e a segurança que tenha no local, eu jamais consigo relaxar totalmente e acreditar que nada vai acontecer. Espero poder dar esta oportunidade para os meus filhos já que eu nunca tive. Gostaria muito de conseguir me livrar dessa insegurança que me acompanha não importa onde esteja.
PS: como uma boa moradora de São Paulo, fui lendo o seu texto e imaginando que coisa horrível teria acontecido com a moça.
Marilena
Oi Carol. Vc disse tudo. É por esse motivo entre outros que pretendo criar meus filhos aqui no Canadá.
Bjs para vc
Sergio e Marilena, isso mesmo aconteceu comigo. Comecei a ler e a ansiedade aumentava para descobrir o que iria acontecer com a menina, mas para a minha surpresa: nada.
Será que é possível oferecer a nossos filhos essa tranquilidade, nas nossas cidades tão intranquilas?
Pois é, pessoal. Na verdade, eu vejo que, tanto quanto a violência, me incomoda a sensação de violência. Aquela dúvida se "será que aqui é perigoso". Isso que vocês falaram de viver olhando pros lados. Eu sei que aqui em Paris e nas outras cidades da Europa também tem violência. Mas é num nível tão menor que a sociedade não vive com esse medo que infelizmente nos foi inoculado pro resto da vida...
Ah, nada a ver. Tudo depende do tanto que vc bebe ou fuma. Outro dia desses voltei a pé pra casa depois de uma balada. E rolou de disputar corrida, plantar bananeira e dar rolamento de jud^^o no ch´~ao, na frente do ceub. A violência é coisa da televisão. Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza!!!
Beijocassssss!!!
Carol, o tempo que eu passei morando em Paris, normalmente tinha aula até 10 horas da noite. Morava exatamente em Saint Denis. Na primeira semana, eu ia literalmente CORRENDO da estação do metrô até a minha casa. Até que fui percebendo que não havia necessidade.... e no final até parava pra comprar alguma coisa no supermercado antes. Realmente é diferente. Olha, eu e Rinaldo estaremos aí em dezembro. um beijo grande!
Tive a mesma sensação da Marilena: fiquei esperando o final trágico da pobre fracesinha. Até porque lembrei na hora do filme "Irreversível"...
Enfim. Só o que posso dizer é "que inveja".
beijos e aproveita a vida segura!
Ei, quem disse que meu site é machismo engraçadinho?????????????????????????????????????????????????????????
Já sei, vc tem tipo vergonha de ter o nosso blog linkado ali, mas como pega mal vc não colocar o meu blog ali, vc coloca, mas com ressalvas, pra ninguém associar vc ao meu blog, sua chatinha!!!
PS: Recebi seu email, to respondendo com calma em casa.
Beijocassss
Carol, fiquei pensando qdo estava em Londres no início corria do metrô até em casa já na 2.semana eu andava tranquila mas alerta. Esta é a diferença entre nosso país e os demais pq a justiça tarda mas ñ falha......
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