Medley

Eu resisti o quanto pude – exatamente um ano. Semana passada, decidi esquecer as lendas urbanas que ligam as piscinas municipais a tramas sórdidas envolvendo piolhos, verrugas e nojos afins e voltei à minha vida anfíbia. Piscina municipal, sim, senhora. Dois euros e sessenta e eu sou a pessoa mais feliz do mundo. Quem vê cara não vê lêndea, é verdade – mas aparentemente nada separa a Piscine d’Auteuil de nenhum clube ou academia onde eu já tenha nadado. Regras de higiene, lava-pés, espaço livre de sapatos. Faltou, talvez, o tradicional exame médico, onde a gente abre os dedos dos pés e das mãos para um médico mal-humorado por estar trabalhando no domingo. Mas, sinceramente, você já viu alguém ser reprovado no exame médico do clube? Eu nunca. Sem exame médico e sem medo, mergulhei de volta à minha vida de nadadora. Entre velhinhos, adolescentes e gente que deu uma escapadinha do trabalho, fiz mil vezes o trajeto de uma borda e outra, pensando na vida, na tese, na morte da bezerra, na sunga mais feia que eu vi na vida no moço ali ao lado. A piscina não tem raia, é braço e perna para todo lado, mas é até legal que fica confuso, um tráfego surreal de passarinho às seis horas da tarde. Quer saber? Amei. Pode contar comigo no pacote trimestral da prefeitura. Pior das hipóteses eu compro escabin e pente fino.