terça-feira, outubro 14, 2008

16ème

Prédios lindos, deliciosos parques secretos e o melhor resultado eleitoral de Sarkozy em Paris. É assim o bairro onde eu moro.

Aqui é limpo e não tem turista. No pé do meu prédio passam as duas linhas de metrô mais importantes do mundo: a que traz o Beto pro almoço em quinze minutos e a que me leva pra fac em vinte. Em menos tempo que isso, a pé, eu levo os meninos para nada menos que cinco ótimos parques diferentes – e a escolinha deles fica a três esquinas de casa. É silencioso. É calmo. E fica absolutamente do lado oposto de tudo o que acontece de bom na cidade.

O 16ème é um bairro de ricos, muito embora isso não seja necessariamente verdade aqui na fronteira sul do bairro. Não impede que muitos dos meus vizinhos ajam insuportavelmente como se fossem. E impede menos ainda que o resto da humanidade se sinta no direito de me julgar como parte deles.

É que, exatamente ao contrário do que nos diziam quando nos convenceram a vir pra cá, o 16ème tem uma fama péssima. Tem-se uma idéia ao assistir ao coletivo "Paris, te amo", que reúne doze curtas inspirados cada qual num quartier da cidade. O dedicado ao 16ème, assinado por Walter Salles, é o único que poderia tranquilamente figurar num filme chamado "Paris, te odeio". E pior: nada do que ele diz é mentira.

Metade do bairro é composta por bem-nascidos. As mulheres dedicam o dia inteiro à caridade na igreja e os homens trabalham por hobby. A outra metade do bairro se empenha dia e noite para que seus filhos façam parte da primeira metade. E acho que essa é a parte que mais me irrita: a geração um-dia-vencerei, que fala franglish e critica as 35 horas semanais que o mundo inteiro inveja. É óbvio que toda essa fauna só pode morar num lugar decente pra se criar os filhos. E tipo é bom morar aqui, só não é muito bom admitir. O segredo é manter seus amigos bem guardadinhos no outro extremo da linha do metrô e sempre sair do lado de lá da cidade. E, claro, mentir quando perguntada sobre seu endereço – ou não exatamente, basta valorizar o fato de que Paris termina oficialmente a uns quinhentos metros daqui. O que faz de mim praticamente uma habitante da periferia.

8 comentários:

Felipe disse...

Punk da periferia!!!
Que mentira!!! Aí é perto de tudo, até fui a pé pro estádio do PSG (se bem que, sim, ele é no subúbrio, ne?)

Beijiocassssssss

Bailarina disse...

Fiquei curiosa para saber qual das histórias do "Paris, eu te amo" se refere ao seu bairro! Conta aí!!! No mais, só pra ilustrar seu texto, lembro-me de uma loja da Rolls Royce ao ladinho de outra da Ferrari quase na esquina da sua casa! Rs

Bailarina disse...

Hello, Viviane! Vc já disse, é a do Walter Salles! É a da babá, não é? Realmente sofrido!

FULANA E SICRANA disse...

Quero conhecer Paris.......

Sicrana
www.notoilet.blogspot.com

Unknown disse...

Nas padarias do bairro da Carol, a tia-atendente-mal-humorada pega a baguete com a mão, como em toda Paris. No bairro chique da Carol, um homem mora dentro de uma cabine telefônica, sem pagar nada (e ainda convida as vizinhas pra jantar). É, mas lá, além das lojas da Rolls Royce e da Ferrari, tem da Lotus e da Masseratti. Lá, o povo chique joga livro fora, junto com o sofá para o passante poder sentar e escolher que obra levar pra casa. Além do estádio do PSG, o bairro chique da Carol é vizinho do Roland Garros (isso sim é ser chique!). Mas o bom mesmo do bairro chique da Carol é pegar dois pirralhos brasileiros e levá-los a um dos quatro parquinhos cheios de meninos lindos que ainda não tão nem aí para o que planejam os pais deles...

Tio Renato

disse...

Sul do 16ème? Então sou sua vizinha pobre! Moramos aqui em Boulogne-Billancourt. Apesar de ser suburbana também vamos a pé pro Roland Garros e pro Parc des Princes!

Leandro Wirz disse...

ótimo texto, linda foto.

Carol Nogueira disse...

Vivi, é esse mesmo o filminho. Deprê!
Dé, então somos vizinhas? Uma dia quando estiver de bobeira vamos passear então.
Rê, amei sua visão... Saudades de passear com você e com a Li. E ainda não tive coragem de levar sua encomenda!! Vou procurar, juro (a coragem). Beijão a todos.