quarta-feira, novembro 19, 2008

As cataratas de Monet

Como todo mundo, eu também adoro Monet. Quando fui pela primeira vez no museu montado com o espólio da família dele, aqui perto de casa, estava preparada para mergulhar numa tarde de lindezas - mas confesso que saí de lá meio frustrada. Apesar de ser a maior concentração de monets por metro quadrado do mundo, o Marmottan tem muito mais obras que ele pintou já no século XX, na segunda metade da vida dele. Eu olhava aquilo tudo e achava meio moderno demais. Cadê o Monet do museu D'Orsay?, eu perguntava, e me achava meio burra. Com razão. Minhas teorias de quem não entende nada de arte me levavam a crer que depois de um determinado momento, o Monet tinha inventado um jeito diferente de pintar. Ou que tinha ficado velhinho com o braço cansado. Ou que estava influenciado pelas vanguardas modernistas. Mas que nada. O Monet estava doente. Doente da vista. Ele tinha catarata. Foi o que eu aprendi na minha segunda visita ao Marmottan, esta semana. Organizaram lá, até fevereiro, uma exposição temporária que relaciona a evolução do trabalho com a evolução da doença dele. Primeiro, os quadros do começo, extremamente bem definidos, quase escolares. Depois, a obra já firmada no impressionismo: o amor pela cor muito superior ao cuidado da forma, as combinações de cores, os tons ditando os contornos - aquela beleza indescritível que a gente associa quando fala no nome dele. Perdi a noção do tempo que passei diante de um amanhecer tão real, tão fresco, tão claro, que me senti em Nova Betânia e tive vontade de chorar. Mas aí depois começam os quadros indefinidos da fase da doença. A confusão de cores sem qualquer contorno, uns borrões gigantes, um contraste forte e indefinido que dá ares de pintura abstrata a quadros homônimos das paisagens que ele se habituou a repetir. Onde se viam as ninféias, a ponte japonesa, a casa vista do jardim de rosas apareciam agora uma sucessão de pinturas indefinidas. Ao lado, trechos de cartas da época relatam a agonia de não encontrar mais as cores, os tons, as definições do olho são - confirmada pela textura triste dos quadros, camadas e camadas de tinta acumuladas denunciando o esforço sobreposto. É claro que é triste. Mas é claro que é lindo.

8 comentários:

Dante Accioly disse...

Não sabia que ele tinha tido catarata. Vida cheia de ironias.

Anônimo disse...

Adorei essa aula de arte! Agora, me deu vontade de voltar aí pra ver tudo de novo - como se precisasse de mais algum motivo pra isso... Beijo pra vcs 4!
Alécia

Anônimo disse...

O envelhecimento expresso em arte. Dificuldades simples de resolver nos dias de hoje.
Beijos nos primos 2º e 3º

G disse...

Oi Carol.
Adorei a aula de arte! Lindo mesmo, deu para sentir, mesmo sem ver os quadros.
E que engraçado você citar Nova Bethânia, será a mesma Nova Bethânia onde eu morri de chorar na sétima série?

déborah nogueira disse...

mais triste que lindo pra mim!
devia de ser frustrante pra ele, coitadinho! :/

Anônimo disse...

Exposição temporária no Marmottan?
Pois há 4 anos eu fui lá e aquelas salas embaixo estavam forradas de Monet. Seria outra?

Liliane

Di disse...

Assim como voce e Como todo mundo, eu também adoro Monet.
Mas sua tia anda meio atacada de veieira mesmo.
Dá um descontão de fim de ano com toda benevolencia do Natal, por favor. Vou contar:
Olhei o titulo As cataratas de Monet, olhei bem a tela mostrada... e depois descobri...
que esta com catarata sou eu, pois fiquei procurando na tela a pintura de uma cachoeira.... e nao achava. pensei até que minha sobrinha havia trocado a tela e o titulo era de outra.
PODE???? Pode rir, eu mereço suas boas gargalhadas....
Beijos
Tia nalva

* disse...

lindo texto. estou fazendo minha monografia sobre Monet e mergulhei num mundo maravilhoso. espero poder visitar em breve Paris e Giverny e conhecer essas obras tão lindas de pertinho :)