domingo, janeiro 04, 2009

Quase em casa

Eu e Marseille nos conhecemos muito rapidamente, ficamos só colegas. Entre um vinho na casa dos meus amados anfitriões, o aconchego da casa de chá mais bacana que eu já conheci e um passeio pelo porto carregando peso e preocupação, eu e ela mal nos dissemos oi. Mas desconfio seriamente que a conversa ainda rende.
Fazia agradabilíssimos onze graus, o que é mais que boas-vindas para quem está sendo obrigado a conviver com temperaturas negativas. Apesar de toda a poesia daqueles barquinhos solitários nos curtos dias de inverno, apesar da beleza forte das igrejas quase-mouras, o que me seduziu em Marseille não foi seu lado cartão postal.
Foi o seu à-vontade. Foi ela ser meio suja. Antiga e calorosa. E a descoberta incrível de que em Marseille há varais. Sim, Marseille é a segunda maior cidade da França - mas há varais em Marseille.
Quando fui a Lisboa me encantei com aquilo. Os lençóis brancos ou estampados de florzinha miúda, uma calçola ou uma bata de hospital denunciando quem é que mora atrás daquelas janelas impessoais e repetidas mil vezes. Como é inverno, poucas roupas estavam nos varais de Marseille neste janeiro cinzento. Mas eu vi que eles estavam lá, adivinhando um estilo de vida meio lisboeta, meio carioca, meio esculhambado, meio nem-aí.
Quase inventei uma teoria dos varais como indício de disposição geográfica sulista, e da permeabilidade da presença dos varais independentemente das fronteiras nacionais, sendo este peculiar hábito capaz de subverter a elegância francesa e se instalar solenemente na fachada das casas de Marseille. Quase inventei, mas não deu tempo.
Definitivamente, me coloco do lado dos que dizem que Marseille é o Rio de Janeiro da França. Para quem mora em Paris, visitar Marseille é quase como ir para casa.

11 comentários:

Guilherme Zé Gotinha disse...

Foste ao estádio do Olimpique?

Anônimo disse...

e eu me sinto a mais sortuda do mundo por ter dividido com você esses dias corridos, as preocupações que carregamos, os varais que não vi mas que já sabia antes de ler você aqui. que sorte a minha. mas sorte mesmo é de ter você na vida. te amo! um beijão, sá.

Ciça Calvoso disse...

Carol,

Que texto lindo! Adorei conhecer um pouco dessa cidade assim, contada por você.

Parabéns e Feliz Ano Novo pra vocês.

beijão

Anônimo disse...

Por isso entao que os marseillais se sentem em casa no Rio, né?
é tudo uma questao de varais!

G disse...

Oi Carol!
a sua teoria me pareceu promissora, tomara que da próxima vez vc tenha tempo de formulá-la, hehehe.
Adorei a descrição da cidade, melhor do que qualquer guia de turismo poderia fazer, me deu vontade de conhecer...
abs,

Giovanna

Leandro Wirz disse...

Carol, seu texto é excelente!
Mas este carioca "meio esculhambado, meio nem aí" não vê poesia alguma nos varais. Eles não estão carregados com lençóis alvos quarando ao sol da primavera lisboeta ou em uma charmosa vila da Toscana. Eles estão apinhados de panos de prato manchados, camisetas regatas amarelas e velhas calcinhas rendadas vermelhas, saindo de quitinetes de Copacabana ou de um conjunto habitacional em Irajá.
Beijo!

Anônimo disse...

Deixa de ser metida!
Renato

Unknown disse...

Oi, Carol! Ótimo texto. Feliz 2000INOVE pra vocês. Um beijo,
Marina

Anônimo disse...

lol,so nice

Anônimo disse...

can u leave ur phone number to me???

Felipe disse...

Um pouco de esculhambação é sempre bom. Nao gosto de coisa muito arrumada, 100% organizada. Fica com uma cara de ausência de fator humano. :)

Beijocas