sexta-feira, outubro 30, 2009

Este é o meu corpo

Como toda mulher moderna ocidental, ou pior ainda: brasileira, eu nasci e cresci preocupada com meu corpo. Dos dezoito aos trinta e três já vi desfilarem pela minha balança todos os números naturais compreendidos entre sessenta e três e quarenta e cinco - e nunca, nenhum diazinho sequer, me olhei no espelho sem querer retocar alguma coisa, nem que fosse só um pouco.

Uns centímetros a menos de cintura, outros a mais de altura, um pouquinho mais de peito ou menos de celulite, pernas mais fortes, quadris menores, a demanda muda com o humor, embora com o passar dos anos eu passe cada vez menos tempo encanada com o assunto - mas ainda assim passo algum, inútil negar.

Só de vez em quando aconteceu, nuns raros momentos de fulgurância, deitada no tapete da ioga ou na grama do parque quando a primavera começava, de repente perceber meu corpo - esse mesmo, meio gordinho e pequeno - como minha casa nesse mundo. Foi rápido mas forte.

Veio uma paz de ter uma casa assim tão boa, forte, saudável, que serviu casa para outros seres, que alimentou outros seres, que troca energia com o mundo em volta. Senti o tremorzinho da vida que existe na minha pele, dentro das minhas veias, nos músculos, nos órgãos que eu carrego dentro de mim e que trabalham tão direitinho, cada um na sua função, harmonicamente. E me senti agradecida. Sinceramente agradecida.

Agora tudo o que eu queria mesmo era ter um espelho assim zen budista.

9 comentários:

Renato disse...

Ela escreve essas coisas só pra ouvir elogios... Carol, esse povo te ama, menina linda!

Denise e Zé Guilherme disse...

se achar um desses me conta.
Aquele papo de trabalhar a cabeça tá mais difícil que eu imaginava...
Mas essa gratidão sincera tem me pegado também com certa frequencia.
beijos, delícia vir aqui!

Mari disse...

me identifiquei muito com teu texto. Ja senti varias vezes essa mesma sensação e até tento me lembrar de que o importante é que o meu corpo ta funcionando, assim, muito dentro dos conformes e mais ainda, do que eu preciso. Ele quase nunca me deixa na mão. Mesmo assim, cada vez que vou comprar uma roupa e tenho que provar o 44, confesso, volto aos meus padrões mundanos de exigência...
ai ai...

Denise e Zé Guilherme disse...

Desculpe o radicalismo... ando mordida de verdade com as tais fórmulas...
na verdade, ando mordida mais com umas mães aqui que saem usando as fórmulas indiscriminadamente. inclusive soltei essa pra uma que me veio com a pérola: "dar de mamar no peito é coisa de quem não tem dinheiro pra comprar NAN!"
desculpe mesmo se generalizei demais e atingi alguém que PRECISOU lançar mão disso.
foi um desabafo, mas não foi minha intenção lançar um bafo, entende?
Entende, né?
o sangue talha, daí já viu...
beijos,
D.

RC disse...

Sem a última frase, o texto ficaria lindo.

Ana Chalub disse...

carolzinha,
depois de um tempo sem computador, voltei a visitar seu blog! e me deparei com esse texto que tem tanto a ver com nossa vida de mulheres brasileiras modernas. nunca fui muito encanada com esse lance de corpo, já que sempre detestei exercícios físicos e só eles poderiam diminuir essa minha barriga construída à base de cerveja e chocolate. mas o que me chamou atenção foi essa sua de que a sua casa é boa e forte. tenho tido essa sensação algumas vezes, e como é boa, né? ela é percebida mais facilmente quando você convive ou conhece alguém com problemas físicos: alguém que sofreu um acidente, ou que nasceu com um problema no cérebro, ou que tem células que se reproduzem demais sem controle e se transformam num câncer. é triste ter de chegar a esse ponto para percebermos que o que importa é ter saúde, mas, seja de que maneira for, perceber isso faz toda a diferença!!!

beijos com saudades!!!

Guilherme Zé Gotinha disse...

Lembrou-me de Cat Stevens. "Lord, my body/Has been a good friend/But I won't need it/When I reach the end".

Paula Menna Barreto Hall disse...

Carolzinha, adorei, sensacional! Se você achar um espelho zen budista por aí, indica, quero um também!!! Aqui no auge dos 41 e também mãe de dois, tento, de vez enquando, pelo menos ser saúdavel!! Risos. beijos

Anna disse...

O texto diz tudo. Bjs.