Capital das modas

Só depois entendi o que deu em mim quando cheguei a Paris, mergulhando de cabeça na última moda. Puro mimetismo assustado, necessidade de identificação.

Sempre gostei de moda como gosto de design: não basta ser bonito, tem que fazer sentido. Se na minha crise terceiro-mundista me achava uma sortuda de ver as roupas da revista desfilando no metrô, hoje entendo diferente o codinome capital da moda.

Porque o mundinho fashion é só uma das milhares de modas que compõem a colagem estética de que é feita Paris. E uma das menos prestigiadas, por sinal - falta de tempo, como diz o outro, esfregando o dedo médio no polegar.

No metrô onde estão os óculos Chanel e a bolsa Darel está do lado a mocinha japonesa, delicada e ultramoderna. E a moda vintage-na-marra de quem se veste nas pulgas divide espaço com o estudante de teatro e sua saruel de gancho arrastando no chão.

Mais adiante estão as africanas com seus pagnes, um capítulo à parte. Imagina: as roupas feitas de amarração, dessas que a gente vê nas fotos da África, os tecidos dos estampados mais bacanas do mundo, que a essa altura, claro, já foram devidamente apropriados pelos modernos não-africanos - em bolsas e acessórios, não mais que isso.

Fico admirando e puxando assunto com as donas dessas roupas que falam de um povo. Sabe que pelas cores e estampas dá para saber de que região vem o manequim? Verde limão na estampa do Congo, cores escuras e estampas simétricas para o Oeste africano.

Tem mais: para os eventos importantes há estampas especiais. Já vi uma moça toda vestida de visita do Papa e um senhor estampado de vitória do Obama - e eu não estou falando de camiseta, mas de estampa mesmo.

Isso debaixo dos meus olhos e eu escarafunchando camisa xadrez na H&M. O tempo que a gente perde por um pouco de aceitação.