sexta-feira, dezembro 04, 2009

O lado bom

Sou otimista por parte de pai e desconfiada por parte de mãe, mas num cenário de desilusão profunda como o que minha cidade está vivendo preciso me agarrar à veia paterna para não ter um treco.

Daí que ao invés da lama quero falar da esperança - da felicidade que tenho ao ver a Câmara Legislativa de Brasília ocupada.

O que posso dizer eu, que nunca coloquei o nariz vermelho e a cara pintada na rua? Que eu sou uma covarde política. Uma indignada de mesa de bar. Uma acomodada entusiasmada com os estudantes de hoje, que lavam a honra da minha cidade no meu lugar - e é com uma mistura de vergonha e orgulho que eu falo.

É lindo ver Brasília mostrando que não é só gabinete - é também juventude muito brava, capaz de encarar segurança burocrata e pintar cartaz escrito Câmara Democrática na parede daquele antro. Juventude que quer mais é matar aula, pode ser, mas quem mata aula na Câmara e não no shopping merece meu respeito.

Quero dizer que o ato não é isolado: meses atrás, em repúdio ao caso Geisy, o pessoal da UnB tirou a roupa em pleno campus - pode até não fazer muito sentido, mas é uma reação (e uma reação engraçada!). Sem falar no acampamento que eles fizeram no ano passado, exigindo a retirada do reitor corrupto.

Eu não devia escrever esse último parágrafo, mas escrevo: o mais legal ainda é que não me lembro de nada parecido acontecendo, por exemplo, num certo Rio de Janeiro tão corrupto quanto Brasília. Sinceramente, acho que se essa palhaçada fosse na Cinelândia ia juntar muita gente pra pedir mais um coco na praia ou mais uma rodada de chopp no Leblon - pra poder se indignar bastante sem sede. Tipo eu sempre fiz.

Sorte de Brasília com seus novos estudantes.

11 comentários:

Renato disse...

Arruda é o legítimo representante da classe média brasiliense, que só olha para o seu umbigo.

J. disse...

Carolina,

Sou doutoranda, moro em Paris há três anos e, procurando por “jornalismo Paris”, encontrei seu blog, e também esse seu post. Que bom que os estudantes da UNB estão se posicionando, mostrando que Brasília não é feita só de quadras e bares antissépticos e de shopping center, como algumas “imagens” e clichês teimam em nos fazer crer.

Mas esse seu último parágrafo infelizmente me parece mais uma exteriorização apressada de algum ressentimento do que qualquer “consideração” fundamentada. A Cinelândia, no Rio de Janeiro, assim como a Praça da Sé, em São Paulo, foram e continuam sendo palco dos mais variados tipos de manifestações – estudantis, sindicais, de movimento dos sem-terra, dos sem-teto, de ONGs, de partidos políticos, a lista é extensa. E isso ocorre quase que diariamente, é só verificar as estatísticas da Prefeitura do Rio.

Agora, é importante ter consciência de que movimento social no Brasil é visto como “coisa de marginal”, de baderneiro, de “comunista-comedor-de-criancinha”, e o que é pior, de assassino, de terrorista, ou de quem simplesmente não tem o que fazer. Eu quero dizer que, ao contrário da França, onde manifestar é um direito reconhecido e respeitado, no Brasil, manifestante está fdd., com o perdão da palavra. E neste ponto o Rio de Janeiro é bem sensível. A qualquer hora do dia em que se passe pela Cinelândia, você se depara com PM reprimindo – para usar uma palavra “educada”- passeata ou ato público de profissionais dos mais variados setores, de sem-teto, etc. etc. etc. Herança da nossa famigerada ditatura militar. E o que é pior: tudo isso é categoricamente “abafado”.

Um outro ponto é que manifestação de rua é bem diferente do que ocorre nos campus das universidades públicas. Na isolada Ilha do Fundão, por exemplo, a PM dificilmente aborda os estudantes da mesma maneira como o faz na rua. Aliás, é bom lembrar que a UFRJ e a USP também tem um histórico de manifestações e ocupações de reitoria, sem falar nos atos mais recentes (converse com alguém que estudou na UFRJ durante os últimos seis anos, ou na USP nos últimos dois anos).

Tudo isso para lembrar que o Rio de Janeiro não é feito dos círculos “classe média” praia-Leblon das novelas do Manoel Carlos, e que manifestações de todo tipo, atos públicos e passeatas continuam ocorrendo diariamente, na Cinelândia sim, mas também em muitas outras praças e ruas dos grandes centros urbanos brasileiros. Que bom que os estudantes da UNB estão colocando a boca no mundo (diante das circunstâncias, passividade e indiferença seriam um péssimo sinal). Mas apesar disso, quer saber? Sou pessimista. Como disse o colega acima, temos uma grande massa da população (não só brasiliense, não é demais lembrar) careta, conservadora, preconceituosa, que só olha para o proprio umbigo.

Um abraço,
J.

machay disse...

Cinelândia ainda ferve tanto como no meu tempo de estudante....só que não tem a visibilidade de uma Brasília.
PS: não precisa ir tão longe tomar um chopinho, é só andar um pouquinho e chegar no Bar Luiz na rua da Carioca.Beijos

Carol Nogueira disse...

Cariocas queridas, meu comentário (totalmente dispensável e assumido como tal desde o começo) é, sim, puro recalque. Não é mole, mas não é mole mesmo, ser apaixonada pela sua cidade natal e vê-la alvo do preconceito absurdo que ela é vítima por parte da maioria esmagadora da população brasileira - o que piora e muito em cenários como o atual. Pagamos o pato pelo que cariocas, goianos, paulistas, gaúchos e também brasilienses aprontam no Congresso, no Supremo, em todo canto por onde haja poder. Levamos fama de encostados quando temos uma população de funcionários públicos dedicados e honestos, profissionais e cada vez mais profissionalizados, que trabalha muito, mas que nem adianta falar porque ninguém acredita mesmo. Cenários como o atual reforçam nossa crise de identidade - ou pelo menos a minha, falo por mim. Daí o que me resta é espernear pra tentar proteger Brasília. Quem me conhece sabe que eu amo o Rio, também por herança paterna - minha mentira infantil preferida era me dizer carioca. Enfim. Foi birra. Pura birra.
Agora senhor Renato, a conversa é entre nós dois: classe média brasiliense, querido, na qual o senhor está perfeitamente inserido.
Um beijo pra todos e desculpa o tiroteio. É legítima defesa. :)

calcinha exocet disse...

O que me entristece é o Arruda ser "cria" do Roriz. A política do DF está contaminada e não vejo nenhuma luz no fim do túnel.Beijo!

Anônimo disse...

Carol, creio que o que acontece em Brasília é o que acontece no Brasil, pois lá temos os representantes de todos os estados. E o que acontece em Brasília, é, senão, nada mais, nada menos, por absoluta responsabilidade de todo o povo brasileiro, o reflexo da mentalidade corrupta, imoral e sem
princípios nem ética, heranças malditas lá de trás..e que, pelo menos alguns estudantes estão tentando mudar

Ana Chalub disse...

carol,

entendo, concordo e apoio sua defesa à nossa cidade (eu, meio mineira, meio brasiliense). basta passar um fim-de-semana em qualquer cidade fora de brasília, seja em capital ou interior desse brasilzão, para ouvir piadinhas a respeito da política e, sem distinção alguma, a quem mora aqui. na cabeça de boa parte do povo brasileiro, quem vive em brasília é político e, portanto, corrupto. ignoram tudo o que temos de bom aqui: dos bares e da gente simpática ao trabalho duro de muitos nós - classe média, alta ou baixa. sim, tem classe baixa em brasília. e tem políticos corruptos também - esses, enviados pra cá por gente que vota em minas, na bahia, no acre, no rio, em todos os estados. na câmara dos deputados, por exemplo, são apenas oito representantes do distrito federal, num quadro de 513 deputados federais. será que os críticos de plantão se lembram de onde são os outros???

é bom ter gente de olho aberto e fazendo da indignação uma ação. eu, como você, também nunca fui às ruas, tampouco pintei a cara. mas acho que esse tipo de discussão tem seu valor, sempre.

beijos! saudades!

Anônimo disse...

Francamente, essa discussão boba sobre identidade so serve para alimentar ressentimento e nos afastar do foco da questão. Ô, galera, vamos acordar, vamos!Esse papo esta pior do que indignação em mesa de bar. Vocês se lembram para quem deram seus votos nas ultimas eleições? Procuram saber o que os eleitos andam fazendo? Com todas as mazelas, vivemos numa sociedade democratica e o voto é obrigatorio. Quem esta no poder o esta porque foi eleito. Não esta satisfeito: cobre dos eleitos, faça camapanha, va para a Cinelândia manifestar, ou para frente do Palacio do Planalto. Ficar no discursinho identitario não da!

Um abraço.

Bel Boucher disse...

Estou com J.

Entendo muito bem que chegou a sua vez de dizer que Brasília não é só congresso, corruptos e encostados. Mas não precisava bater numa cidade que também enfrenta o preconceito de todo o resto do país - inclusive de brasilienses.

Sim, o Rio sempre foi alvo de ataques:
- povo que não gosta de trabalhar (ha ha ha, já constataram que trabalha mais que paulista, mas não tenho provas e nem quero ter);
- povo malandro;
- cidade violenta que é só pisar na rua que você pode levar um tiro de AR-15;
- fora uma galera classe média carioca irritante que destrói com a fama do povo.

enfim, não quero demorar. A lista é longa.

Portanto, na próxima vez que vangloriar Brasília - o céu mais lindo que já vi e excelente cena do rock do país - por favor, não precisa pisar numa outra cidade.

saudações rubro-negras.

Renato disse...

Sim, faço parte da classe média brasiliense. Classe na qual me inseri sem sobrenome, empreguismo, QI ou amizades suspeitas.

Também não hajo como meus pares, penso como tais, voto como tais.

Para mim, Brasília está muito acima de um VLT, de uma Esplanada, de um projeto urbanístico.

Brasília é mais Ceilândia, Samambaia, Planaltina que Plano Piloto e Lago Sul.

Carol Nogueira disse...

Mas viu gente?, eu sei tudo isso.
Concordo mais com vocês do que comigo. Foi ataque-é-a-melhor-defesa, bobeira minha. Passou.
Beijo em todos.