Não é neurose, não - nem estereótipo raso: é físico.
A falta vira uma armadilha que a sociedade do pinto nos enfia na cabeça, que ou a gente desarma ou passa a vida assim - achando que precisa completar a lacuna.
Uma mulher sozinha procura:
... um livro onde se afundar, uma roupa na vitrine, alguém com quem conversar. ... a asa de uma xícara, um recado (mesmo antigo) no telefone. ... a pelinha mínima da unha, um lugar tranquilo para olhar fixamente, o bueiro, o meio-fio, o sapato da pessoa na mesa ao lado, qualquer coisa que desperceba o olhar do outro - e a pena alheia à sua sozinhez incompleta de fêmea.No fundo nada lhe falta - ao contrário, lhe sobra.
Tem um corpo que cria, que gera e alimenta; ou nem cria se não quiser, mas que é completo do seu jeito - e pode ter tantos colhões quanto quem os tem de fato.
Mas se não desarma a armadilha, continua. Procurando, procurando, procurando.
Há quem acabe achando a peça perdida lá dentro delas - mas a maioria só desiste de procurar. A mim, me basta aprender a viver com a instável ambiguidade entre a falta e o excesso. Gostar dela, então, nem estava nos planos.
Ps.: Já viu?, a França é tão feminista que até a tomada "fêmea", como chamam os eletricistas, por aqui tem um falo!
6 comentários:
Blog inteligente, peculiar, parabéns!
te sigo.
Ótimo, como sempre.
Eu ja virei fã. E esse texto é a 'musica do momento' por aqui. :-D
a falta, o desejo, o excesso. que que a gente faz se não mover-se por dentro e por fora? Isso é vida.
Diagnostico: Histeria pura e simples. Estar eternamente insatisfeita, como Flaubert pintou a sua Madame Bovary.
Beijos de uma noiva histerica e fan discreta.
Adorei teu blog! Amei esse post. Parabéns!
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