terça-feira, maio 18, 2010

Os outros

Diferente - demorei uma vida para chegar a esta palavra.

Até então eu era gorda. Canhota. A que preferia brincar sozinha, contando histórias para as paredes, do que de boneca. Até o tipo sanguíneo eu tive a criatividade de ter diferente de toda a minha família.

Criança, isso não era necessariamente bom. Levei tempo para limpar o diferente do juízo de valor que vinha colado nele.

Quando, por consolo ou clarividência, eu finalmente distingui diferente de pior passei mesmo a me divertir me achando o elemento que (aparentemente) não pertencia ao conjunto.

Mas depois eu cresci. Tive filhos. Observando os dois, bem rápido entendi que um deles não fala como as outras crianças. Que o outro não segura o lápis como os outros. Ou que não gosta de doces, não quer se vestir ou não obedece como todo mundo.

E de repente elas eram tantas que todas as diferenças do mundo se tornaram a regra.

Toda verdade é óbvia, e eu cheguei à quase estúpida conclusão de que os outros não existem. Esses outros lá fora, a quem passamos a vida imitando ou refutando, simplesmente não existem. Somos todos inconfundivelmente únicos.

Foi um alívio perceber que o parâmetro é aparente, mas às vezes dá saudade da ilusão infantil de originalidade - também chamada egocentrismo.

7 comentários:

Anônimo disse...

Carol, voce eh muito original...quando digo original, digo criativa, e isto eh uma caracteristica muito valiosa. Assim como acho a Ana Luiza criativa. Como disse Einstein, a imaginacao eh mais importante do que o conhecimento.
Por isso eh que nos te amamos muito. Porque vc sempre teve a coragem de ousar criativamente. Que vc nunca deixe ninguem te podar essa criatividade, essa espontaneidade..

Anônimo disse...

muito obrigada. É uma idéia muito "liberadora".

RC disse...

É como diria aquele velho filósofo alemão: "o que seria do igual se todos fossem diferentes?"

Leandro Wirz disse...

Somos únicos. Como todo mundo.

Carol, seu texto foi diferente, original, criativo, único. Mas mais importante do que isso tudo é que seu texto é bom de ler.

Anônimo disse...

Carol, vc sempre foi criativa... tenho até hoje a boneca de papel(diferente!) com pedacinhos do seu cabelo...lembrou?

Anônimo disse...

Carol!
muuuito obrigado por saber escrever tããão bem o que eu levei uma vida inteira para tentar explicar !

beijo grande

Adri (Volpi,da exposição da Tânia)

Nalva disse...

Carolzinha, minha sobrinha muiito querida, dá gosto ler voce e um enorme prazer, maior ainda é poder lhe sentir, lhe conhecer um pouco mais através de seus textos, uma delicia de ler, como sempre digo. Revi o filme Fernao Capelo Gaivota e vc é o proprio, uma lição de vida, nada de seguir o bando, é preciso voar mais alto para se ter a visao do todo e só assim, exercer o seu livre arbitrio. Amo vc e a toda a sua familia. Tia Nalva