quarta-feira, setembro 08, 2010

Nunca aqui e agora

Sobre assuntos tão distintos, posts recentes da Amanda e da Aninha me levaram a uma mesma reflexão (meio comprida): de como, nessa nossa sociedade atual, a felicidade está sempre em outro canto.

A Amanda questiona as publicidades que pretensamente valorizam um modelo estético alternativo mas que acabam repisando o mesmo modelo clássico de beleza, apenas levemente revisitado.

A publicidade que ela comenta “autoriza” a Élodie a ser feliz mesmo sendo gorda de peitão – ainda que, na foto, ela não seja nada gorda e nem tenha peitões tão grandes assim.

Uma das leitoras da Amanda levantou a bola: ela se identifica com a publicidade porque, tendo peitão, não consegue encontrar sutiãs de alças finas, sexies como os da Élodie – e assim ela nos deixou saber que é disso que trata o anúncio, coisa que nós, peitinhas, jamais enxergaríamos.

Conclusão número um: a Amanda e eu não somos o público-alvo dessa campanha.

Conclusão número dois: quem tem peitinho queria ter peitão, quem tem peitão queria usar sutiã fininho de quem tem peitinho. Ou acha que poderia ser mais magra, mais alta, mais loira, mais etc.

Ou seja, essa história de modelo estético clássico ou alternativo é a maior balela. Porque o problema não está no clássico ou no alternativo – está no modelo.

Existe aí fora uma indústria cultural perversa, malvada, comedora de criancinhas, que quer que você simplesmente não esteja feliz com seu próprio corpo. Pra que? Pra ela te vender o sutiã perfeito que vai resolver seus problemas, oras!

De outro lado, o post da Ana sobre felicidade vai além: fala dessa tão contemporânea busca da nossa verdadeira essência – nossos desejos de investir em projetos pessoais, uma busca de felicidade mais profunda e autêntica que passa por algo mais do que apenas a rejeição de um modelo estético clássico. É o imperativo da felicidade, do seu modelo de felicidade. Encontre-se, descubra-se, invente o seu jeito de ser feliz.

O que esta mensagem – sem dúvida alguma positiva – tem em comum com a história dos modelos estéticos? É que se trata da perseguição de um modelo também. Um modelo que assume a felicidade como uma consequência direta do auto-encontro.

Se você for um bom funcionário que ganha seu dinheiro, vida ok, mais cedo ou mais tarde vai começar a achar que precisa desengavetar seus projetos pessoais de fotografia. E daí, quando você for um fotógrafo legal, vai achar que deveria também se arriscar na pintura. E quando tiver feito isso, vai pensar que te falta um toque de marketing, para finalmente poder fazer dinheiro com todas as maravilhas que você produziu.

Ou seja, meu bem: a felicidade continuará sempre estando em outro lugar.

A questão é: acho que toda busca de ser melhor (estética ou essencialmente) é bem-vinda. Desde que justamente não se perca a felicidade no meio do caminho.

Como já diria Buda.

PS: Este post é um presente de aniversário. :P

9 comentários:

Felipe disse...

Concordo em parte, mas acho que não é questão de que estar fazendo o que faz no momento não deixa a pessoa feliz. Pelo contrário, acho que as pessoas vivem e sobrevivem de planos. De mudanças, de projetos. Sem planos de mudanças (ainda que sejam em rumo completamente distinto do atual), fica difícil arrumar motivação para viver, que não seja esperar a morte chegar.

E a aniversariante é uma pessoa de muitos talentos. Só precisa saber canalizar isso para poder ter cada vez mais chances de ter outros planos ainda mais legais.

Beijos pra você e para a aniversariante. :)

ricardo disse...

também concordo em termos... Veja o meu caso, tenho que trabalhar com coisas chatíssimas, vendo a vida passar e sabendo que seria muito mais útil para mim mesmo escrevendo ou traduzindo, por exemplo. Entretanto, faut rigoler...
De qualquer forma, no fundo a gente é sempre sozinho e imagina, numa outra vida, o fim da nossa própria solidaão...

Carol Nogueira disse...

Eu não tô entendendo porque vocês dizem que concordam "em termos" e repetem tudo o que eu estou dizendo! É exatamente isso, Ric: faut rigoler.
Só um ps do ps, Fê. Esse post não é SOBRE a aniversariante, é PARA ela. Meu para ela. O que ela "precisa saber" é ela que sabe. :o)

ricardo disse...

rs rs rs, então tá certo ! Beijão !

Amanda disse...

Ahahaha! Pois é, depois dos comentarios la no blog, pensei mesmo que aquela campanha não era pra mim, pq eu não entendo nada de peitões e não imagino como peitão pode ser destratado na nossa sociedade.

Não que eu queira ter peitões, estou muito feliz peitinha desse jeito. :)

Acho que a questão de onde morar tbm é assim. Reclamo de Paris e idealizo outros cantos, mas sera que eu seria mais feliz fora daqui?

Bel Butcher disse...

A grama do vizinho é sempre mais bonita. E os peitões são sempre incômodos. Vai por mim...

Amanda, acho que você já está francesinha (eu praticamente nasci uma! heheh), reclamando de tudo. Mas nós reclama, mas nóis gosta!

Anônimo disse...

tava pensando nisso ontem: o que divide um dia qualquer de um dia feliz? tive um dia lindo ontem, mesmo com as pendências que eu preciso resolver, com as coisas burocráticas, mesmo com tudo. tanta coisa boa guardada aqui - e que está comigo o tempo todo - que mesmo querendo outras coisas, tendo outros sonhos, seria hipocrisia dizer que não sou feliz. enjoy the ride, honey. ouvi isso outro dia e é sempre bom ser lembrada mais uma vez. um presente de aniversário lindo, de alguém mais linda ainda, que tem todo o meu amor. mil mercis, querida!! :-) um beijo da aniversariante.

Dante Accioly disse...

Lindo texto, Carol. Também "concordo parcialmente" com tudo que você escreveu. Tudo tudinho! Acho que a função da felicidade é estar mesmo em outro lugar. Pelo menos, de vez em quando. Esta busca é que nos move, que nos leva para frente. Beijo.

Dante Accioly disse...

Lindo texto, Carol. Também "concordo parcialmente" com tudo que você escreveu. Tudo tudinho! Acho que a função da felicidade é estar mesmo em outro lugar. Pelo menos, de vez em quando. Esta busca é que nos move, que nos leva para frente. Beijo.