sexta-feira, janeiro 21, 2011

i-vida




É clássico: o casal se amava há décadas, os dois tinham lá suas diferenças, mas nada instransponível. Aí vêm os filhos. E aí… tudo fica levemente mais complicado.

A minha teoria é a de que a família, ao contrário do casal, é um sistema complexo. Não é mais uma relação simples, A e B. É A, B e C – o que gera infinitos cenários diferentes (sim, eu estou desmentindo a análise combinatória).

A fica com C enquanto B vai às compras. Quando B volta, A está muito cansado e doido pra “compensar” a manhã de sábado “perdida”. E aí decide ir jogar bola. B, por sua vez, fica frustrada, porque afinal de contas ela não estava exatamente tomando sol com sua melhor amiga – estava fazendo as compras para todo mundo comer, inclusive esse sem noção do A.

Claro, há momentos de paz, também, quando A, B e C estão em casa, sorridentes, comendo pão fumegante com margarina no café da manhã. Mas aí C joga o suco de laranja na toalha limpinha e…

Ok, agora pensem que o meu sistema complexo já veio com duas novas variáveis de uma vez que, como é de se imaginar, brigam, ops, interagem entre si.

Meu casamento vai muito bem, obrigada, mas eu entendo completamente os que não vão.

Daí minha mãe vem com essa: mas sempre foi assim, minha filha. As famílias com filhos sempre foram sistemas complexos, por que é que agora no primeiro suco de laranja na toalha A quer se separar de B?

Ah, minha mãe… Porque nós vivemos em outro mundo. Nós vivemos no i-mundo (que eu nem acho tão sujo assim, desculpa, eu tentei mas nããão consegui evitar a piada cretina).

Nós somos seres humanos i-ndividualistas. Ponto.

Nós ouvimos música sozinhos, nós praticamos esportes sozinhos (quem é que joga vôlei hoje em dia?, todo mundo hoje corre, sozinho e de i-pod), nós brigamos pelo controle remoto, nós nos i-nternamos na i-nternet diariamente, nós zelamos profundamente pelo nosso próprio prazer.

Nós não entendemos um sistema que funcione sem que as partes estejam satisfeitas.

Sim, nós queremos tudo: sermos felizes sozinhos e com o nosso sistema. As duas coisas têm que andar juntas – se sacrificar pelo sistema é coisa que aprendemos a não fazer exatamente com a geração dela: da minha mãe.

O boa notícia é que somos otimistas. Vamos tentando, tentando, tentando. Até dar certo.

17 comentários:

Camilinha disse...

Nossa, quase chorei quando li...
Tão real... Quanto a minha vida...

José Fernando disse...

E nos i-solamos e nos i-nfernizamos. Mais que nunca, o i-nferno são os outros.

Anônimo disse...

o pior Carol, é quando A e B decidem fazer uma reforma...é difícil!!! Não recomendo!!

Anônimo disse...

Carol, acho, sobretudo, que o mais importante, e' ter um objetivo maior da vida, e' querer, todos os dois, construir algo maior, a familia. O objetivo e' mais elevado e de muita responsabilidade. O objetivo requer muita grandeza de alma, muita espiritualidade, pq, qdo temos filhos, estamos cuidando de alminhas, que sao diamantes, que Deus nos deu para cuidar.A gente, qdo casa, nao tem ideia da dimensao, mas vai aprendendo...
Isso e' que e' rico e proveitoso.
Mas nao podemos perder de vista o objetivo maior...Amadurecer doi....
mas e' libertador..Bjs, Tia Dinea

Anônimo disse...

Muito, muito, muito bom!
Dani Nahass

Leandro Wirz disse...

Vc voltou i-nspirada das férias (pardon, não resisti).
Texto ótimo e lúcido.
Eu escolhi uma vida sem o elemento C.
A e B aí preferiram com dois belos Czinhos. Fica mais complexo, claro, mas estou certo que vcs acham que vale muito a pena. Não chore o suco de laranja derramado (pardon, não resisti de novo ao trocadilho i-nfame).

Anônimo disse...

Perfeito Carol!!
Que bom que são otimistas...
Há os que não tem essa disposição para fazer dar certo e não os culpo!!!

Tamine disse...

Carol, vc é gênia.

O que será de mim quando chegar meu C em julho?

Luciana disse...

Amei!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Unknown disse...

É realmente um (rico) aprendizado diário...Aqui em casa somos só A, B e C e tô morrendo de medo(e vontade)de encarar o "D"zinho. Bjos

Flavia disse...

Morri de rir. A identificação da isso: gera o riso (de nervoso). Como é bom ver (bem) escrito o que somos. Também sou uma otimista e um suco de laranja na toalha pode ser motivo de riso ou de choro. Como vocês, eu fico com a primeira opção. Parabéns e obrigada pela lucidez.
Abs,
Flávia

Felipe disse...

Eu acho que as pessoas não podem casar pensando em se separar. Mas também nao podem pensar ou insistir numa coisa que às vezes está bem clara que está errada. Eu acho que a nossa geração ainda padece do problema (de terminar tudo muito rapuido) de reação oposta ao da geração anterior (de insistir num troço que ja caducou há eras). O meio termo vai sendo buscado.

Um fator, goste ou não de qualquer comentário que eu faça em relação ao universo feminino, é que as mulheres hoje em dia são muito mais independentes e determinadas. A independencia financeira dá às mulheres uma possibilidade de não tolerar um marido grosseiro ou acomodado. Faz o cara ter de se virar e redobrar para manter o casamento sempre do jeito próximo do ideal. Antigamente, quando só o homem trablahava, a mulher ia separar pra fazer o que? viver de pensao? Muita gente fez isso, mas muita gente nao tinha nem condições logisticas-financeiras de fazer isso, por ter ficado tanto tempo em casa. Havia uma certa "tolerância com as merdas do marido".

Claro, isso é o lado da mulher moderna, que, decidida, busca seu proprio rumo enquanto ainda está nova, gostosa, interessante (tem essa ainda, a mulher, mae ou nao, ainda tem que se virar pra malhar, pra ficar inteirona). Claro que tem muita mulher coroa interessante (e eu adoro) e charmosa. Mas convenhamos que é muito mais facil pra um homem de 50 e poucos arrumar outra esposa do que uma mulher (claro que vc vai me desmentir, chamar de machista, mas isso é fato).

Enfim, eu ja to na idade que meus amigos que casaram com 20 e tantos tao separando ou ja casados com a segunda esposa. Isso é normal. Acontece.

Cada vez mais entendo o pobre do Chico Anysio (será que ele chega no Fantástico de domingo?), que teve oito mulheres. Ele simplesmente deve pensar: "nao ta mais legal, desisto".

Era um homem à frente de seu tempo.

Cordialmente.

Mamãe Gabi disse...

Aqui em casa somos A, B, C e o D chegando em menos de um mês. Dá muito trabalho, mas é muito maravilhoso. As relações em geral precisam de dedicação, seriedade e compromisso, sejam elas familiares, corporativas, de amizade...
Pra quem tiver interesse, dêem uma olhada nesses dois artigos de Stephen Kanitz. Achei bem interessante:
Contrato de Casamento - 2004
http://www.kanitz.com.br/veja/contrato.asp
O Segredo do Casamento - 2005
http://www.kanitz.com.br/veja/segredo.asp
Beijos Carol!

Anônimo disse...

Pois é... me disseram que casais que acham que filhos vão unir o casal estão loucos!

Casais terão menos tempo enquanto casal com filhos e terão todas estas dificuldades e outras mais!

E o seu/sua companheir@ você escolhe, filhotes escolhemos ter e tentamos educar, mas não sabemos o quê vai sair disto... não escolhemos a personalidade de noss@s filh@s... Pense em sistema complexo e inesperado!

Anônimo disse...

Mamae Gabi sabe das coisas... as incompatibilidades docasal nao tem nada a ver com os filhos...eles nao tem culpa denada nem podem ser responsabilizados por condutas exclusivamente de pais imaturos e pelos desvios de carater. Responsabilidade nao se adquire ou se é responsavel ou nao se é...faz parte do ser, de sua formaçao (careta ou nao) Cabe a cada SER, ser fiel aos seus principios incluindo o principio maior do casamento, aqueles que fizeram duas pessoas quererem caminhar juntos e construir uma familia. O ponto de ruptura está exatamente ai...se um dos dois quebra a aliança feita em nome do que os uniu, cabe reavaliar mesmo pois um outro principio foi quebrado..o do respeito.
E isso nao é filosofia barata..podem crer.
Ser feliz é o objetivo de cada um nessa vida.

Mari disse...

Lindo o texto!
Só tem uma coisa que precisa ser dita. Se A e B tem uma vida ótima antes de C, é importante lembrar que o C vai, cada vez menos, derramar suco de laranja e necessitar que A ou B abra mão de suas coisas por ele. O C vai ficar independente logo logo, e A e B podem voltar a ter sossego. Só que esse "sossego", desta vez, vem permeado de experiências, cumplicidades extras e novos planos. O que eu quero dizer é que C, D, E...vêm pra acrescentar, não pra salvar, nem pra separar. Às vezes dão uma atrapalhadinha ou uma ajudinha, mas nunca devem ser responsabilizados...
Beijocas
Mari

Unknown disse...

Amiga, juro que vc leu meus pensamentos.