Eu queria estar feliz com a intervenção do mundo lá na Líbia. Eu detesto o Kadhafi, não só porque ele mata, censura e mascara, como todo ditador, mas também pelo toque especial, negligenciável diante das barbaridades supracitadas, do cara fazer o tipo nojento, de sorrisinho arrogante nos lábios (o que me lembra minhas coberturas em Águas Claras).
Eu queria estar feliz, mas não consigo. E não só pelas pessoas que vão morrer, além das que já morreram, gente que não tem nada a ver com isso, carimbados como efeitos colaterais no atestado de óbito. Não só porque um mundo em guerra é um troço triste, deplorável, a falência completa do diálogo, do que nos faz gente e não bicho, etc e tal.
Mas porque as justificativas para essa intervenção são mentirosas e arrogantes e daí tão deploráveis quanto as contadas pelo ditador.
Quantas ditaduras existem no mundo? Quantos governos matam, censuram e mascaram sem que a liga dos superamigos venha em socorro de seu povo?
Daí vem o Petit Nicolas com sua crise crônica interna, no seu desespero bonapartista de encontrar qualquer causa, qualquer uma para tirar os olhos da lama em que ele enfiou seu país, lá vem ele desfraldando sua capa de Marianne à frente do exército mundial, lá vem ele salvar a Líbia do seu ditador, de sua história, do seu isolamento para conduzi-la a um diálogo com este paraíso que é o Ocidente.
A seu lado, os Estados Unidos, que precisam vender armas. E todos os outros, menos entusiasmados, mas enfim - como se trata de uma causa da liga dos superamigos, como dizer não?
Não, não é uma guerra contra o mundo árabe. Mas se a gente conseguir levar mais MTV junto com a liberdade, por que não? Se a gente conseguir tirar o chador das mulheres, essa agressão ao que o Ocidente entende como liberdade feminina, por que não?
Estou misturando muita coisa - e se já é difícil explicar minha resistência ao intervencionismo, imagina colocando tanto gato no mesmo balaio.
O que eu quero dizer é que eu não aguento a arrogância de quem está de fora querer dizer o que é melhor para quem está de dentro. Um processo democrático de verdade tem de nascer do povo e caminhar com as próprias pernas - ou ele não se sustenta.
Mas e daí? Quem foi que disse que é disso que se trata?
6 comentários:
Muito triste mesmo um mundo em guerra. Principalmente sem saber o que vem depois. Quem garante que o futuro da Libia vai ser melhor?
Acho dificil dizer se é bom ou não.
Como você, estou triste pelos que vão morrer e sofrer, irritado com o Sarkozy, irritado com as "desculpas"...
Ao mesmo tempo, deixar o ditador massacrando a sua propria população não é uma boa solução.
E sim, a liberdade deve ser conquistada, a emancipação so' pode vir de aonde estamos,mas às vezes uma ajuda externa é realmente uma boa ajuda.
Seria muito melhor que fosse pelos motivos certos. Torcendo para isto ser para o melhor....
Limpando as justificativas hipócritas, todas as guerra sempre foram por razões econômicas. E assim sempre serão.
Toda vez que vejo os lídimos representantes da civilização ocidental e cristã querendo ensinar boas maneiras aos povos bárbaros, sinto que vai dar merda. Só recentemente vimos a invasão do Afeganistão com o propósito de capturar o Bin Laden, logo após a invasão do Iraque para capturar armas de destruição em massa. E vamos deixa a lista por aqui. Por algum tipo de equívoco recorrente, quando não acham o que procuram, descobrem petróleo. Enquanto isso se dá em lugares remotos, tudo bem. Mas lembremos que em breve teremos motivos mais que suficientes para encarar esse tipo de engano sistemático. Somos, de certa forma, bárbaros, doces bárbaros. E teremos o pré sal civilizador.
Carol, as ilustrações dos posts são lindas. Vc quem as faz?
Carol, vc esta' completamente certa, bem, segundo a especialista em Relacoes Internacionais, e' isso mesmo: as mudancas tem que vir do povo em primeiro lugar, senao nao sustenta..Ai vem o americano, em nome de querer que todos se tornem capitalistas e democratas, vender muita arma para aplacar o conflito..va la entender esse mundo...
Postar um comentário