sexta-feira, junho 24, 2011

As coisas que aprendi desenhando



Eu já devia saber, mas foi desenhando gente no metrô que eu me dei conta de que, definitivamente, as pessoas são mesmo muito diferentes. Em todos os sentidos.


Existe nariz largo, nariz fino, sobrancelha que pula da cabeça, sobrancelha colada, boca fina, extra-fina, fina em cima e larga embaixo, grossa, extra-grossa e por aí vai. Olho afundado no rosto, olho normal, olho pulado. Incrível como a gente só vê de verdade quando desenha. Ou quando fotografa, acho que deve ser igual. 


Também no jeito as pessoas são diferentes. Tem gente que repara que está servindo de modelo só de você colocar o olho nela. E aí tem uns que vão enfiar a cara no livro ou fingir que estão dormindo - como se isso fosse me fazer parar. Tem outros que se escondem, mudam de lugar. Tem quem nem liga. E tem quem fica fazendo caras e bocas, se sentindo o máximo.


E tem ainda - e esses me assustam - os que realmente não percebem que você está olhando fixamente para eles há, sei lá, cinco minutos. Ou eles fingem muito bem ou são completamente autistas, e as duas coisas me impressionam um pouco.


No início eu morria de vergonha de desenhar em público. E morria de vergonha dos meus desenhos. Me comparava com meus colegas e sofria interminavelmente.


Até me dar conta de que, por mais que eu adorasse o desenho de cada um dos superdotados das minhas turmas de ilustração, eles nunca traduziam exatamente o que eu sentia. Claro. Porque eram eles que desenhavam, e não eu. Aprendi que ninguém nunca vai conseguir traduzir os meus sentimentos com um desenho melhor do que eu mesma - justamente porque os sentimentos são meus mesmo, de mais ninguém.


Quer um motivo melhor para desenhar incansavelmente? Se é bom ou se é ruim, não importa tanto. Importa que fala do que eu sinto - e desenhar me ensinou que isso já é muito.


Para guardar tudo num mesmo canto, fiz um portfólio com meus desenhos daqui e meus desenhos do metrô.

5 comentários:

Amanda disse...

Isso me lembrou um dia remoto do meu segundo grau, quando o carinha mais gato do colégio estava sentado do meu lado e começou a me encarar. Percebi que ele estava desenhando e me esforcei pra fazer a cara mais linda-distraida-concentrada-em-outra-coisa-mas-bem-gatona que eu pude. Uns 15 minutos depois ele veio me mostrar o desenho do personagem do TAZ que ele estava copiando do meu casaco!

Do Taz.

Anônimo disse...

pessoas distintas com o mesmo sentimento. o mundo é uma graça!

Amanda Borges disse...

Oi Carol,
sempre leio o seu blog, mas não comento. Hoje fui numa exposição e li uma frase do João Cabral de Mello Neto que ainda não saiu da cabeça:
"Fotografar é afiar a navalha nos olhos". Acho que vale para quem desenha também. ;)

Dani Pontes disse...

Carol, eu não sei se era, mas tocou profundamente em mim.
Obrigada!

Felipe disse...

Eu quando faço fotos das pessoas a paisana, sem que elas saibam que estão sendo fotografadas, só consegui bons resultados com uma lente mais potente. Se eu tô muito perto (e acho que é o seu caso no metrô), invariavelmente a pessoa percebe e se mexe ou sai do lugar logo.

Mas desenhar deve ser muito mais dificil, porque eu acho que precisaria ficar horas olhando pra pessoa. Na foto, eu só dou um clique e pronto!!! :)

Volto logo pra gente fotografar e desenhar aqui!!!