quinta-feira, setembro 29, 2011

O apito



O Pedro, ele pede.

Numa banca de revista, ele pede revista, numa livraria, um livro, na loja de brinquedos, um brinquedo, na revenda de carros na esquina de casa, ele pede uma Ferrari.

Ele pede, simplesmente.

Quando dá, eu dou. Mas tento não dar sempre, porque acho que tanta pedição está pedindo uma explicação: que uma coisa é gostar, admirar e outra coisa é querer.

Confusão normal - na verdade, a gente adulto às vezes esquece a diferença e entulha o armário, a vida sentimental e o tempo livre de tralha desnecessária.

Então claro que não toda vez, que eu não sou sádica, mas pelo aprendizado gosto de convidar o Pedro a pensar no quanto ele realmente quer cada coisa. E a saborear o presente enriquecido do gostinho de cada dia de espera. Das pequenas e das grandes coisas.

E nada me emociona mais do que ver a boca cheia com que ele prova os pequenos prazeres, transformados em grandes pela vontade cultivada.

Um apito. Noventa centavos.

Mas, espera, não era um apito qualquer, não senhor. Um apito prateado. Igual ao do policial.

Que virou a atração do parque, perturbou as jovens mamães e seus bebês, foi o terror de todos os motoqueiros do caminho, passou de boca em boca fazendo um pot pourri literal de todas as bactérias do bairro

Quem se importa? Depois de uma semana sonhando com ele, o Pedro ganhou um apito. Prateado, ainda por cima.

4 comentários:

Anônimo disse...

ai, eu amei que ele ganhou. a alegria desse pequerrucho é a minha maior felicidade. saudade de vocês, pertinho. um beijo com amor, Sá.

RC disse...

Texto gostoso de ler...

caso.me.esqueçam disse...

ai. eu nao posso ter dinheiro. "quero esse livro. ele parece ser legal. eu preciso desse livro". eu compro o livro. mas eu preciso desse anel. nao eh qualquer anel, sabe. ok, ja gastei com o livro. eu vou ficar feliz se comprar esse anel? vou.

ai eu compro o anel. e depois me pergunto porque nao sobra dinheiro no fim do mes...

Carina Freitas disse...

Estes pequenos ensinamentos fazem uma grande diferença na vida adulta.
Esse texto me lembrou muito uma boneca que eu queria, que andava e cantava.... Naquele ano minha mãe disse que o papai noel estava passando por uma série crise financeira e, se eu quisesse mesmo a boneca, que seria generoso da minha parte juntar algumas moedinhas para ajudá-lo. Foi o que eu fiz. A família toda me dava moedas... ao juntar um saco delas, entreguei para minha mãe que deve ter enviado via sedex para o papai noel.... rs... Na noite de natal, minha boneca chegou. Tenho ela até hoje, e mais do que isso, aprendi a zelar pelo que tenho, aprendi a dar valor a cada conquista e nunca me enrolei em dívidas na vida financeira....

Certas coisas a gente só aprende na pratica.