sexta-feira, outubro 21, 2011

Coisas de que vou sentir falta, parte I


Você gosta de arte contemporânea? Eu acho que eu nem sabia direito o que era arte contemporânea antes de vir morar aqui. A culpa é um pouco de Paris, da enorme oferta de museus e galerias, mas também do meu reencontro com o desenho. Isso, de repente, passou a me interessar.

Este é o final de semana das feiras de arte contemporânea aqui em Paris. Na mais importante e famosa, Fiac, eu não passo nem na porta - porque ela é cara. Eu vejo a arte contemporânea como uma piada - e eu gosto de piadas - mas pagar trinta e seis euros para ver uma piada não tem muita graça, convenhamos.

Além disso, o espírito da Slick, que é uma feira de descoberta de talentos, me atrai mais. É mais novo, menos sério, mais inesperado. Mas mesmo lá, claro, a babaquice e o nonsense rolam soltos - porque se não for assim não é "arte".

Todas as matérias dos jornais sobre as feiras fazem brincadeirinhas com esse universo, dizendo que as perguntas mais importantes a se fazer são "o que quer dizer?" e "quanto custa?". Eu vou pras feiras com outro questionamento essencial: "como ele fez isso?". Essa pergunta abre portas na minha cabeça.

Esse fênix da foto maior, por exemplo, foi feito por uma moça chamada Lyndi Sales com pedaços de papel de publicidade chinesa cortados e amarrados com linha vermelha. É ainda mais lindo que na foto - e eu não tenho idéia de quanto custa (mas deve ser caro). 

Pés de mesa de PVC
Muro destruído

Cartuchos de arminha de chumbo
Cálculos feitos à mão (8-1=7-1=6, etc)

Será que uma parte dos três mil euros que custa a foto "Madona" será revertido para a adolescente grávida que serve de personagem?
Mil e duzentos euros. Sem comentários.
Lance Letscher, minha favorita da feira

De pertinho. O trabalho dela é todo de colagens.
Mas, sem dúvida alguma, grande parte da graça de uma feira de arte contemporânea é a oportunidade de observar de perto o comportamento de espécimes desta interessante fauna que elas atraem: os rycos. Gente, os estandes têm maquininha de cartão de crédito! Isso significa que tem gente que compra mesmo! É uma feira, oras!


Em vários estandes esbarrei com três amygas bem 16ème que faziam comentários do tipo: "que lindo [um trapo vermelho todo costurado, preço: 3 mil euros], vai combinar com seu sofá!".


Quando me deparei com essa obra - um burrico empalhado, com um galho coberto de ouro preso nas costas, pendendo da ponta dele uma pulseira hermès circundada de borboletas, que hipnotiza e faz o animal avançar - quase falei: "olha lá!, gente!, é você!". Mas depois, né?, achei melhor não.


 

2 comentários:

Mari disse...

hhahahahahhahahahha!Essa do burrico foi otema!
Não costumo me interessar pela arte contemporânea, não é minha praia mesmo! Mas no fundo acho que é um mal necessario. De vez em quando a gente até acha mesmo alguma coisa que faz sentido. So que eu não tenho muita paciência pra procurar...
ainda mais pagando caro!!!

daniel valentim disse...

pois é... e por aqui dizem que a europa está ruindo a olho nu. artista contemporâneo deve ser novo nome pra banqueiro