sexta-feira, junho 19, 2009

O vestibular do cocô

Dia primeiro de setembro, quando os meninos completam três anos, será o primeiro dia deles na escola. Será o primeiro grande encontro da geração parisiense 2006: os poucos que já frequentavam a creche desde pequenininhos vão passar conviver com todos os outros que frequentavam o jardim de infância algumas vezes por semana e com os pequenos que até então ficavam em casa, com seus pais ou babás. De repente, todo mundo vai estar junto, em turminhas de 25 alunos que vão aprender um montão de coisas legais.

Só que, na França, para entrar na escola não pode usar fralda.

É uma regra. A criança de três anos tem que saber fazer xixi e cocô no penico. Quer dizer, tem que, se quiser ir a escola. E é claro que eles querem ir à escola. Os meninos adoram o jardim de infância. Domingo cedo a gente se prepara para ir ao parque e lá estão eles pedindo as mochilas. Adoram os coleguinhas, as professoras e vão amar a escolinha.

Só que eles ainda não fazem xixi e cocô no penico.

E eu fico revoltada com essa pressão. Acho uma violência impor um parâmetro como esse a pequenos de três aninhos. Um desrespeito com o ritmo psicológico e até biológico de cada um. Não têm nem três anos e lá está a escola exigindo que eles provem o que sabem. Bem a cara do sistema escolar francês. Ninguém merece o vestibular do cocô.

18 comentários:

G disse...

Hahaha, muito bom o texto e o título!
Estou aqui torcendo por eles!! ;-)
bjos

Mari disse...

Carol,

Li os teus dois textos e concordo com o o teu ponto de vista sobre esta questão da pressão. Acho que a nossa sociedade esta realmente se tornando um mar de intransigência e totalmente intolerante ao erro, e à espera. Tudo tem que ser pra ontem, todo sucesso tem que ser hoje, o prazo para quase tudo é amanhã.
Acredito que, em se tratando de educação, temos que ter uma consideravel dose de flexibilidade ao estabelecr certos limites. Como essa historia de cocô... é um absurdo que a regra seja tão dura. Não faz, não entra. isso deveria ser reavaliado, claro. Mas entendo um pouco o porquê disso. Fui professora desta faixa etaria e sei que boa parte da tarde na escolinha a gente passa trocando fralda, limpando xixi que saiu na hora errada, o sangue que sai da ferida que alguém descascou, o nariz de alguém que não para de escorrer... quando a gente vê, a tarde passou e de aula mesmo, aconteceu muito pouco. Tem-se que aproximadamente aos dois anos as crianças ja possam controlar o cocô e o xixi e comunicar que querem ir ao banheiro. isso otimiza muito o tempo na escola, sobra muito mais tempo para as atividades todas. Mas as pessoas são realmente diferentes e tem um tempo biologico diferente, então realmente não da simplesmente para recusar sumariamente a criança desse jeito.. e qto ao teu outro texto, pensa que se vcs voltarem ao Brasil um dia, a diferença sem duvida sera sentida no tocante à educação formal que teus pequenos estão recebendo na França.
Tudo de bom pra vcs!!

Anônimo disse...

Olá, Carol!

A garotada vive mesmo sob extrema pressão. Educar os filhos assume outro viés nestes tempos loucos.
Confunde-se o não - a palavrinha que ensina limites - com a imposição. Aí temos duas situações prejudiciais às crianças. De um lado, pais que se assustam com tanta rigidez e, por culpa, abrem abrir mão da educação dos filhos, são incapazes de dizer não. Do outro, pais submissos à educação da pura imposição criam crianças assustadas, com medo de errar, inseguras, não valorizam a amizade, mas a capacidade de se impor sobre o outro, somatizam toda essa pressão - serão adultos submissos, dependentes,incapazes de enfrentar as vicissitudes da vida, ou intolerantes.

Um grande abraço!
Sidnei

Unknown disse...

Caraca, nós, os sem-filhos, não temos ideia memos desse universo - vcs estão treinando os pequerruchos ou estão a deixá-los livres da pressão - cocô quando e onde der na telha? Mas se vcs não os condicionarem, eles não vão poder estudar. E aí, como fica?

Flavia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Flavia disse...

Bom demais o texto! Matheus tm começa a escola em setembro e está longe de querer fazer qualquer coisa no penico. Não quer. Até senta, mas de fralda, se a gente tirar a fralda ele berra. Eu não tenho a menor pressa e por mim ele ficaria de fralda até se sentir pronto. Desteto essa mania francesa de querer que as crianças cresçam rápido demais, fiquem logo independentes, autônomas em tudo. Crianças de 3 anos!
Esse vestibular do cocô (adorei o termo!) é realmente uma droga (para não dizer uma bela m...). Mas, bom, vamos lá esperar o verão para deixar os pimpolhos sem fralda e esperando que até a rentré eles já estejam com o doutorado deles.
Bjs
Flavia
ps : acho que vc ainda não sabe, mas o bebê 3 já está a caminho! Será que a gente se encontra antes dele nascer ??? Hahahaha, isso já virou piada né!

Anônimo disse...

Uma criança de 3 anos com fralda pra mim é ridiculo. Pais preguiçosos. Ela ja sabe se comunicar e entender quando é que ter que ir ao banheiro. Sou extremamente a favor desse regra. Sistema frances nota 10! Se todas as crianças francesas chegam a essa idade indo ao banheiro, talvez seria o momento de rever seus conceitos...

Carol Nogueira disse...

Mariana, se dois já dão trabalho, imagina 25! :) Entendo essa explicação, mas acho que, em toda política pública, são princípios que devem pautar contingências e não o contrário. A questão não é de falta de estrutura, mas de convicção pedagógica mesmo - caso contrário, a estrutura seria criada.
Quanto prezadíssimo anônimo, desconsiderando o lado ofensivo do seu comentário, te aconselho bem o contrário: quando o assunto é maternidade (ou paternidade), tome muito cuidado com suas certezas absolutas. A gente costuma pagar caro por elas.

Anônimo disse...

A boa nova que ninguém te disse é que 95% das crianças na França abandonam as fraldas nas duas ultimas semanas de férias... a tempo de irem para a escola!!!

Marisa Muros disse...

Aos 3 aninhos já era para eles estarem livres das fraldinhas...Será que não houve uma bobeada da mamãe?( e do papai tb.?)Boa sorte para eles!

Marisa Muros disse...

Como eles estão grandes!E já vão fazer 3 Anos? Nossa, parece que foi outro dia que passei por aqui e fiquei conhecendo vcs.!
Tudo de bom para a turminha!

Carol Nogueira disse...

Marisa,
Um deles já está bem avançado. O outro, progredindo a cada dia, no ritmo dele. A diferença entre eles me faz pensar que os critérios não podem ser rígidos. Eu vejo bem de perto que cada criança tem sua maneira de reagir ao mundo, aos estímulos, etc. Acho que isso deve ser respeitado - e que a pressão não ajuda em nada.

déborah nogueira disse...

eu discordo de alguns comentários! primeiro porque crianças são pessoas, e pessoas tem seu próprio ritmo, sua própria vontade, sua hora de fazer as coisas. acho errado falar que "com três anos as crianças não devem mais estar usando fralda PONTO" porque cada criança é uma criança diferente, não há regras pra isso! pelos comentários, ficou parecendo que vocês consideram suas crianças pequenas massinhas de modelar, que vocês vão montando conforme querem. todo mundo sabe que não é assim! não é porque a mãe não quer mais que o filho use chupeta que ele vai parar de usá-la! se fosse simples assim, todos os bebês do mundo falariam com um ano, andariam com dois, fariam cocô no penico com três... o que não acontece! da mesma forma que tem um gêniozinho que começa a falar com seis meses, outro só fala com dois anos, e é assim a vida! ninguém é igual a ninguém, portanto não tem o menor sentido estipular a meta que aos três anos todas crianças do mundo farão cocô no penico! e ao contrário do que disseram também, não vejo isso como "preguiça" ou "bobeira" dos pais! feio é ter preguiça de entender a criança e de respeitar seu momento, sua evolução e seus medos.

Yashá Gallazzi disse...

Nossa, quanta sabedoria daquele anônimo, heim?

Carol, concordo com a ideia de que impor pressões e atropelar os ritmos individuais de cada um não é a melhor coisa. Mas será que, nesse caso específico, não é por uma boa causa? Mais ou menos quando nós, os pais, forçamos um pouquinho para que eles aprendam a dormir sozinhos, inclusive deixando chorar um pouco no berço?

Abraços.

Mateus disse...

Carol, ai lembrei dessa sua fotinho, ai que saudades!!! Sobre o assunto, cada criança é diferente, cada uma tem sua característica particular, e seu ritmo próprio!!! A gente vive combatendo o critério de se enquadrar todo mundo num mesmo sistema, todo mundo no mesmo quadrado, então porque determinar que TODAS as crianças precisam ser "enquadradas"? Lá na turminha da escola do Mateus, das treze crianças, apenas três já estão sem fraldas, e estas são as que têm um irmão mais velho, que termina servindo de exemplo. Claro, entendo a necessidade da escolinha aí na França, mas vejo que essa parte do desenvolvimento infantil exige muito menos de regras e convenções, e muito mais carinho, atenção e RESPEITO ao tempo deles. Desejo sucesso na empreitada! Beijão! Lu

Renato disse...

Ensina eles a fazer cocô e xixi no pé da diretora. E a dar o dedo pros coleguinhas.
Francês é tudo fresco, mal resolvido. Prefiro nossas crianças criadas com o pé na terra, subnindo em árvore e soltando pipa.

Anônimo disse...

Débora, nota dez pelo comentário..
Carol, pior é quando a criança "tem" que ler com 6 anos...Cada criança tem seu ritmo, e impor a ela um ritmo diferente da sua natureza é um começo dos muitos desrespeitos que a criança fica submetida pelos adultos racionais demais e insensíveis. É aí que a criança perde o seu brilho, pq, para ser aceito pelo mundo adulto, tem que se submeter às imposiçoes cômodas e burras destes..
Estudei magistrado no antigo Instituto de Educação, que era o modelo de escola pública, e o que eles mais falavam lá:RESPEITEM O RITMO DA CRIANÇA; RESPEITEM A SUA INDIVIDUALIDADE...
Bjs, Tia Di

Camilinha disse...

Quando li esse seu post, meu filho era um bebê de 7 meses e, portanto, muito longe dessa fase...

Agora, com 2 anos e 3 meses, estou participando da campanha "fora fralda" com a escolinha... Acho ótimo! Os três primeiros dias foram horríveis, ontem melhorou, hoje é o quinto dia e tudo está indo muito bem.

A dentista até comentou comigo, quando mais cedo, melhor!!! E além do mais, quando menos gente tocando nosso filhos, melhor, não é?

E viva o penico!