Na falta de uma boa resposta, preferi contar uma historinha, daquelas do rapaz que faz tudo certo e do outro que fura a fila e pára o carro na vaga de deficiente. Ela achou divertido e vivia cobrando novos episódios da série. E lá ia eu mirabolar.
Pois essa semana uma história de ética caiu no meu colo. Ou melhor, no meu pé.
Terraço de um boteco no quartier latin. Um cliente que sai, o garçom que entra e o Beto me mostra uma nota de dez euros no chão. Minha visão periférica me convence de que eu vi o dinheiro cair do bolso do garçom e lá vou eu, serviable como o diabo: moço, caiu do seu bolso.
Cinco minutos depois ele vem me ver: olha, eu nunca carrego dinheiro no bolso. Não é minha – e me devolve a nota. Eu digo que o dinheiro também não é meu, eu só estava devolvendo, ele me dá de ombros e diz que eu devia estar achando bom. Ética, Dedé, tendeu?
A história terminaria bem se não fosse pelo meu dilema. E agora? O dinheiro também não é meu. O Beto se opõe todo brabo a devolver o dinheiro ao chão, alegando que eu já tinha feito ele perder outra nota idêntica meses atrás com esse mesmo argumento. Aspas dele: dinheiro no chão não é de ninguém.
Bom. Tomo a decisão: a nota vai para o primeiro mendigo bem mendiguento que eu encontrar pela frente (não se engane, em Paris há muitos). Feliz da vida lá fui eu para meu revolucionante encontro com a ética.
Até entrar no próximo bar que não aceitava cartão e tomar minha ética todinha em uma cerveja pra mim e outra pro Beto.
É muito grave se eu der outra nota de dez euros para o mendigo?
15 comentários:
ha muitos, muitos anos atras, quando meus dentes ainda estavam mudando, minha mãe me pediu pra devolver os centavos que o cobrador havia nos passado a mais. disse "por que nao fica com a senhora?!" toda espantada. ela não me repreendeu (afinal, eu era uma criança e aqueles eram apenas centavos), mas foi justamente a naturalidade com a qual ela disse "porque não é meu" que me fez entender, de uma vez por todas, o que é ética. é por isso que eu fico temerosa de pensar em filhos. mal sabe minha mãe que aquela cena de cinco segundos me fez começar a ser outra pessoa!
hahahhah
adorei o texto!!! e aconselho o seguinte: da vinte euros logo para o proximo SDF e fica com a consciência de férias por uns tempos, que tal???
pensa que pelo menos aqui a chance de alguém devolver os dez euros que vc perdeu ou ainda vai perder é bem maior e isso faz qualquer pessoa honesta se sentir bem melhor em relação à sua postura ética... bem diferente de se sentir um "otario" como muitas vezes a gente se sente de vez em qdo la na terra brasilis...
tsc, tsc, tsc o que não se faz por uma cerveja?! rsrsrsrsrsrsrs
relaxa, tá tudo certo com a sua ética e com a sua cerva.
nada grave...
afinal era cerveja, não era leite!
hehehehe, adorei o texto!
beijos
Denise
Ora, Carol, relaxa, afinal uma cervejinha vale muito gastar os 10 euros achados no chão, não? Eu, como minha avó, diria: "nem tanto nem tampouco!"
onze anos depois e a história da ética continua... nesse episódio, a moral da história é que entre ética e cerveja, escolha a cerveja! haha :)
Você está fazendo falta aqui em nosso país...
Hahahaha... Adorei o final do texto!!!
Só o fato de refletir sobre ética - e reforçar suas convicções - já valeu a pena. Mais um belo texto.Mauricio Câmara
ia falar que era por uma boa causa, a cerveja, mas vi que não seria nada original. de toda forma, tá dito.
Muito bom o texto,rsrs. Cada dia melhor o blog.
Bjs.
Sicrana
Lindo texto, cai aqui por acaso e simplesmente nao conseguia parar de ler! Parabens!
Isso depende essencialmente da marca e da temperatura da cerveja.
Carol, quando a gente vai marcar de tomar uma ética gelada um dia desses? Muito bom o texto.
bj
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