terça-feira, agosto 18, 2009

Em defesa do anima

Alguém precisa avisar aos homens. Eles têm toda uma revolução pela frente e ainda nem sabem.

Me dei conta disso quando vi o anúncio de um carro quatro por quatro que saía assim do meio de uma selva, tipo uma fera braba, e por cima da foto umas letras de pedra com um discurso de ogro: dê um murro na mesa e exija o seu; porque é bom ser homem. Fiquei pensando que tipo uns dez por cento dos homens ao meu redor se identificariam com aquela imagem medieval. E depois fiquei pensando que sorte a minha.

Mostrei o anúncio pra uns cinco amigos, propondo uma resposta enérgica àquela babaquice. Não tem ONG que entra com processo contra propaganda machista?, então!, era obviamente o caso. Silêncio do outro lado da linha. Tipo eles achavam podre, mas e daí? Tá, então escreve no blog, sei lá, manda um email, qualquer coisa. Silêêêncio.

Nossas louváveis antepassadas passaram os últimos cem anos brigando para que nós, mocinhas, pudéssemos votar, beijar um cara na naite sem trocar telefone e ganhar igual ao nosso colega. O resultado é que hoje o lado masculino da mulher é super aceito na sociedade: a gente pode usar bermudão, jogar bola, beber muita cerveja, falar palavrão e ninguém diz nada. Jung diria que existe hoje uma legitimação do animus, mas larga pra lá que isso é papo de monografanda.

E o outro lado?

Meus filhos gostam de um desenho animado que tem quatro personagens: um palhaço, um gatinho, uma galinha e uma bailarina. Nas nossas brincadeiras, eles brigam pelo papel de palhaço e me delegam a bailarina. Num dia de criatividade exacerbada, me propuseram o palhaço e decidiram ser a bailarina. Segundos depois de ouvir a proposta, a referência masculina da casa adentrou nosso picadeiro e se apressou em explicar que meninos são palhaços e gatinhos, mas não são bailarinas.

Repara: se hoje em dia meninas podem ser palhaços, gatinhas, galinhas e bailarinas, por que os meninos – teoricamente o sexo forte – têm sua margem de escolha reduzida?

O João e o Pedro amam a Dora, a aventureira, e tudo bem. Claro: a Dora pula na cabeça de crocodilos, se pendura no cipó, encontra o tesouro perdido, é a bem dizer uma Tarzan. Ela é a feliz encarnação do animus, e é um alívio saber que as amiguinhas dos meus filhos vão crescer tendo a Dora como um de seus modelos.

Sabem, mocinhos?, vocês não têm ideia como somos felizes sendo super femininas quando queremos e um pouco masculinas quando nos dá na telha.

Para quando, hein, os direitos dos homens?

9 comentários:

Felipe disse...

Quero o direito de não fazer nenhum carinho depois de gozar e poder dormir tranquilamente sem que isso gere uma crise no relacionamento.

Quero o direito de poder acordar com uma mulher na minha casa e ir fazer minhas coisas rotineiras, como ler e-mail e entrar na internet, sem que isso seja entendido como sinal de desatenção.

Quero o direito de não ter de dar satisfação de como são/eram/foram/serão meus níveis de amizade e intimidade com todas as mulheres que povoam ou povoaram a minha vida.

Quero o direito de poder fazer programas com meus amigos na presença da minha namorada sem ter de ficar medindo minhas palavras ou preocupado com o que ela vai achar se eu falar isso ou aquilo.

Quero o direito de ir a um show de rock´n´roll que eu adoro e a minha namorada ou rolo entender que aquele não é o ambiente para ela estar a não ser que ela seja igualmente fanática pela banda.

Quero o direito de transar com quem eu quiser sem emitir nenhum certificado de garantia sobre o dia, a semana ou o mês seguintes.

Carol Nogueira disse...

Não era beeeem disso que eu estava falando, mas tá valendo. Cada um é que sabe quais os seus direitos que quer ver defendidos.

Ana Chalub disse...

sempre ouvi amigas dizerem que invejavam nos homens a vantagem de fazer xixi em pé. e, toda vez que escuto isso, penso que é quase assim, mas vai além: os homens têm o direito de escolher se vão fazer xixi sentados ou em pé. porque, pense bem: levantar da cama ainda com sono e se equilibrar em pé fazendo xixi deve ser péssimo. eles podem escolher: se estão na rua, regam as árvores; se estão no banheiro de casa, PODEM SE SENTAR. se todo homem fizesse xixi sentado em casa, nunca mais haveria briga pela tampa levantada. mas, sabe o que acontece? os homens se reprimem e não usam esse direito de maneira alguma! devem achar que sentar no vaso pra fazer xixi é tão feminino quanto fazerem o papel da bailarina...

Amanda Lourenço disse...

Pelo direito de chorar eles ja estão se emancipando. O direito de usar rosa então, ja conseguiram! O que vejo de homens de camisa rosa por ai...

O direito de cuidar dos filhos como a mãe, na França ja estão bastante avançados. E o direito de fazer as tarefas domésticas sem ser chamados de florizinha tbm.

O direito de recusar uma briga ja esta avançado.

Até que eles não estão tão mal assim...

luci disse...

não concordo plentamente com o "o resultado é que hoje o lado masculino da mulher é super aceito na sociedade". ja ouvi varias vezes, depois de meia duzia de palavrões saidos da minha boca que "isso não pega bem pra uma mulher" (mas pega bem pra um homem? ah, aprendi). uma amiga de um antigo namorado disse que me achava mais bonita que a ex dele porque eu usava sandalia, e não tênis (além do conceito bizarro de beleza, tem a questao de que mulher é pra ser delicada, tênis é pra homem). essas babaquices ainda existem hoje em dia. infelizmente.

mas é mesmo intrigante o que você disse. o irmão desse mesmo antigo namorado, brincava de boneca quando era pequeno. ele e a boneca eram inseparaveis. ele largou a boneca tão naturalmente quanto a adotou. se os pais tivessem criado caso, as coisas poderiam ser diferentes... e, de qualquer forma, qual seria o problema?

Yashá Gallazzi disse...

Ihhh, acho que o Felipe não pegou mesmo o espírito da coisa, hehe...

Carol, ÓTIMO TEXTO! Fascinante! Sem dúvida um dos melhores que já li.

Bailarina disse...

Querida,

Eu acho que será essa a nossa contribuição para a sociedade por meio dos nossos filhinhos! A gente chega lá!Adorei!

Leandro Wirz disse...

O corporativismo de gênero faz com que eu me solidarize com o Felipe e não o deixe sozinho aqui na arena das leoas.
Meninas, é ótimo poder usar rosa, receber flores, chorar em comédias românticas, escrever poesia, assistir e dançar balé, gostar de moda e até mijar sentado. (Sorry pelo termo, mas como escreveu Carpinejar,homem mija - fazer xixi é coisa de criança e urinar é laboratorial.)
Mas é também libertador e divertido ser ogro, neanderthal às vezes, estar mais próximo de ser tão somente bicho-homem.

Thiago disse...

O melhor do movimento feminista...é o pélvico...