Lembra que uma vez eu falei das máquinas preguiçosas, do Umberto Eco? Pois acabo de fazer uma delas funcionar. E a toda força.
Desde que O Mulo caiu nas minhas mãos eu cismei que o coronelzão que desfia sua confissão no romance era ninguém mais ninguém menos que o Roriz.
Fosse pelo sotaque goiano lapidado para o personagem, pela sisudez de quem tenta se convencer da sua própria envergadura ou principalmente pelo esmero no fabrico de uma lógica peculiar em que ele, ele mesmo, nunca é culpado de nada, adivinhei entre o personagem real e o fictício uma aderência total de personalidades - e não pude mais me cansar do jogo.
O que era uma simples adivinhação de primeiras páginas foi se reforçando. Eis que o fazendeirão dá de grilar terras, sentindo um prazer mórbido em queimar alqueires e alqueires da mais linda e ociosa mata pra transformar numa pastaiada sem fim. Eis que ele dá de arrumar título de eleitor pros agregados todos, regendo votação de cabresto - imagina.
Eu ia me comprazendo de navegar num retrato tão crítico, tão bem-acabado, que não perde em nada por ser inventado, pelo Darcy Ribeiro e por mim. Em matéria jornalística nenhuma se diria tanto, sem compromisso nenhum com a verdade. Só na literatura (e na nossa cabeça) é que a gente é livre de verdade pra falar do mundo como se acredita nele.
Antropólogo do Brasil do Meio como ele só, o homem que dá nome ao campus da minha universidade me deu um presente sem saber. Curti esse livro enricando ele dos valores que eu bem entendi. Bão demais, nhô. Ê mundão véio sem portera.
PS: Almas sensíveis, abster-se. O livro é uma putaria da primeira à última página, como bem ilustra o título do Darcy e a linda e sutil ilustração de Andrea Ebert, que encabeça esse bilhete.
4 comentários:
CONHECI HOJE O SEU BLOG!!!
GOSTEI!
PARABÉNS!!!
tÂNIA
Quem teve Daercy não merece Timothy.
... e eu que pensei que era um post sobre o Juju e o Pepê conversando sobre o muro! ai-ai: acho que eu me tornei uma tia, primeiro de tudo! :) beijo! sá.
sá,
que bom que não fui só eu...
bjs
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