domingo, dezembro 05, 2010

Muito nós para pouco eu



Como se sabe, existem no mundo dois tipos de gente: os que decidem e os qualquer-coisa-está-bom.

Os qualquer-coisa-está-bom acham que são generosos. Fáceis de conviver. Amáveis, gente-fina. E até são mesmo, geralmente.

Mas não é por isso que eles acham que qualquer coisa está bom. É porque eles não saberiam escolher, se tivessem de.

Não é que eles não tenham personalidade, vontades, desejos. Eles têm. Mas se os das outras pessoas forem mais fortes, mais enfáticos do que os deles (e quase sempre o são), o que é que custa ceder dessa vez?

E de vez em vez eles vão esquecendo o som da própria voz. Ou nem é questão – eles já aprenderam a falar na primeira pessoa do plural, num nós que abarca a vontade do outro como sua.

É tanto nós para tão pouco eu que os qualquer-coisa-está-bom olham muito em torno. Para tudo. Pedir opinião, confirmar convicções. Ou, sei lá, só para ver como o anda o outro, mesmo. É tão sozinho aqui dentro.

Não por acaso exemplares de qualquer-coisa-está-bom são abundantes em famílias exemplares, onde o nós funciona bem demais. Não raro eles se casam com seu par perfeito, o egoísta. E vivem infelizes para sempre.

8 comentários:

Unknown disse...

ui, essa doeu... :)
adoro seus textos menina!

Anônimo disse...

gostaria de ver seu pensamento sobre o amor (homem e mulher), dos relacionamentos que não deram certo, que estão em fase de "recomeçar", da fase da incerteza, do que é o amor pra você...das "fossas" que mtas mulheres passam..sobre o amor.

Raminagrobis disse...

Touché...

Felipe disse...

O problema do "tanto-faz" e "qualquer coisa está bom" é que a pessoa nao decide e depois, quando alguma coisa da´errada, fica te aporrinhando.

Isso acontece muito em viagem. Já tive amizades estragadas por conta dessas coisas. Costumo dizer: ficar "de boa" quando tá tudo lindo é facil. Você prova mesmo que é companheiro (amigo, namorado (a)), etc) na hora da dificuldade.

Muito chato você escolher todo o passeio, tomar uma decisão, receber um "eu fico bem com qualquer coisa". Desconfio dessas pessoas.

Leandro Wirz disse...

Ótima observaçao, excelente texto. Tanto faz e qualquer coisa são um saco. E egoístas, déspotas, que não cedem nunca também não dá pra aturar. Bacana quando as duas pessoas têm opiniões próprias e negociam. Bjo

Anônimo disse...

"Qualquer- coisa- serve" tem os seus ganhos secundarios, ou não agiria assim; e ele sofrerá menos se identificar porque precisa sempre ser tão legal, e porque agradar (sempre) o outro é mais vital do que seguir a si próprio.Nada que uma boa terapia não esclareça! Antes que haja acumulo de sapinhos engolidos e um dia a coisa exploda- para perplexidade dos que se habituaram com o "tudo tá bom, voce que sabe"...
O bom mesmo é aprender e poder negociar.....

déborah nogueira disse...

enxerguei NO MÍNIMO três pessoas que eu conheço nesse texto! ô dificuldade em ser mais EU dentro de um NÓS nesse mundo, hein?

Anônimo disse...

estou gastando boas sessões de terapia pra deixar de ser uma qualquer-coisa-tá-bom...