Foi muito, muito depois de chegar por aqui, em 2007. Mas um dia, quando eu vi, Paris virou a minha casa.
Estão aqui meus restaurantes preferidos, minhas lojinhas, meus ateliers todos.
Tenho meus amigos queridos, casas quentinhas que me acolhem no inverno, abraços e gargalhadas que batem perna comigo no calor do verão.
Aqui tenho meu quarto de desenho, só meu, só meu, onde estou agora e sou capaz de passar horas, dias a fio.
Nenhum parisiense me fez chorar esse ano, nenhuma vez - e bem que tentaram. Acho que aprendi enfim a rir deles. E com eles.
Estou confortável em Paris. Completamente confortável.
E quem foi que disse que isso é bom?
É hora de voltar. De férias - mas, em breve, de vez.
Vai ser um luto, ainda que a Quel me diga sempre pra não sair dizendo luto por aí, que vão me achar no mínimo dramática e no máximo doida, mas paciência - não tem outra palavra. Eu devia até vestir preto no dia da mudança.
Mas quem foi que disse que isso é ruim?
É hora de olhar Brasília com os olhos novos que eu adoro cultivar - e que privilégio poder olhar sua casa com olhos novos.
Em breve será hora de viver o Brasil de outra maneira, daquele jeito estranho de quem não está mais lá nem cá, nem em lugar nenhum.
Me dá medo voltar.
Mas quem disse que ter medo é ruim?
12 comentários:
Carol, não tenha medo nãaaaooo!!! Nós estamos todos aqui pra te acolher! Bjss!
Carol,
Li seu post hoje e me deu um aperto no coraçao. Uma vontade de chorar...
Na verdade estou voltando para o Brasil definitivamente em janeiro, e tudo que você escreveu é exatamente o que estou sentindo neste momento.
Luto é a palavra :-(
Bjos!
Claro, deve haver razões práticas, pessoais para você voltar. Eu precisaria ser seu amigo para saber. Mas, à luz da razão, não há motivo plausível que faça alguém deixar Paris para voltar a viver em Brasília. Além do quê, com sua volta, a essência do Le Croissant vai morrer, e os dias ficaram um pouco mais vazios, sem esses esbirros de humor e fantasia que são os textos desse blog, nascidos do exílio. Pena.
Iiihh... Nem parece aquela que me vendeu o Brasil, ha pouco mais de um ano, falando das grandes dificuldades de viver aqui em Paris, longe da familia, e com filhos (me prevenindo sobre a dificuldade de cuidar dos filhos longe dos avos..) ;)
Não pode não!! ;)
Brasil é muito bom TAMBEM!
Par contre... é verdade que os expat's que voltam sempre me falaram (e eu tb senti nos 6 meses que tive que passar no Brasil no meio dos meus 6 anos de vida parisiense) que a gente perde todo sentimento de "appartenance" : nem brasil, nem França.
Prefiro dizer "felicite-se!" : vc é cidadã do mundo!
O preço a pagar, a saudade, sempre vai fazer parte das melhores aventuras dessa vida... Tant pis :)
bjs
Medo, todos os não muito loucos temos. Mas benditos sejam aqueles que enfrentam seus medos.
Receios e desafios à parte, se eu fosse vc, eu não voltaria para o Brasil. Mas isso é mera, meríssima, opinião.
Faça o que estiver ao seu alcance para viver experiências e momentos felizes onde quer que vc esteja.
Acho que em Bsb vai ficar mais fácil a gente tomar um café.
Nietzsche disse que a gente às vezes tem de se afastar do que conhece: só saindo da cidade podemos apreciar bem o quanto as torres são mais altas do que as casas. Mas essa mudança de perspectiva é sempre ambígua: pode reconciliar como pode afastar definitivamente...
Carol,
Vc sabia que iria passar por estas perdas quando daqui saiu, porem me preocupa os guris que tem em Paris a casa que eles sempre conheceram. Porem com certeza vcs já estão preparando os meninos, pois vcs são cidadãos do mundo.Bjs Kia
Brasília certamente agradecerá...mais poesia no ar com a volta de vocês...
Querida Carol, a gente volta, mas nunca volta de todo. Depois a gente retorna a Paris, mas o tempo que ali vivemos já se foi, não volta mais. É assim mesmo a vida, passageira, peregrina. Ao voltar, voce vai sentir muita raiva, mas é do descompromisso quase geral aqui da terrinha, ao qual a gente se desabitua. Mas tem o contato pessoal de nosso povo, este que só tem aqui. E te surpreende todo dia!Bon courage!
Carol, estou montando o grupo de apoio aos ex-exilados. Se quiser, podemos fazer reuniões via internet com você, já que a base do grupo será o Rio.
:-)
Mas, ó, já vou adiantando, não é fácil, não.
courage.
Carol, sinto exatamente o mesmo. É esta sensação que temos quando moramos fora. Parece que quando voltamos para nossa cidade falta alguma coisa, mas quando estamos fora também sentimos muita falta da nossa família, dos nossos amigos. Hoje sinto que terei realmente que ver Recife com outros olhos !!! Beijos mil. Parabéns pelo texto.
Luto?!
Uma sugestão: http://www.youtube.com/watch?v=ihvOu5Tf2zM
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