sexta-feira, março 25, 2011

A parte pelo todo



Uma vez, na terceira série, a professora mandou levar um crunch para a escola. Naquela época, o crunch chamava kri - e a nossa missão era entender o conceito de fração.

Um quadradinho numa fileira em que havia oito quadradinhos. Um oitavo.

Alguns anos mais tarde, na aula de português, a metonímia. O maracanã comemorou o gol do Flamengo.  Claro que não eram as vigas de concreto, a trave nem as cadeiras numeradas. Eram as pessoas que estavam lá dentro. A parte pelo todo.

A gente nem imagina quando está lá, na salinha de aula, ouvindo uma a cada dez palavras do professor - enquanto as outras voam pela janela com o nosso pensamento. Mas é bem ali, compilando esses primeiros conhecimentos, que a gente vai se construindo.

Num processo aleatório - por que determinadas palavras colam e outras voam? - com uma palavra aqui e outra ali, ano após ano, percorrendo um caminho meio sem sentido, que a gente não sabe muito bem onde vai chegar. Daí um belo dia você descobre: em você mesma. O que, no fundo, quer dizer o mundo inteiro.

Porque você é um oitavo de crunch. Um dos torcedores do maracanã. Se construir não é só de você que se trata. Se revirando pelo avesso, você enxerga também o não-eu. O humano, o universal.

E entende, também, porque determinadas lições nunca saíram de você.

4 comentários:

Ateliê Basile disse...

Carol, obrigada pelo comentário. Sou super fã do seu blog. Sempre passo aqui. Adoro suas reflexões... elas sempre me fazem pensar na minha vida, nas minhas escolhas, no meu dia a dia com meu filho!

Não sabia que vc costurava, não! Vc levou sua máquina aí para Paris?? Aí devem ter aulas bem legais de crafts. Vc já fez alguma?

Olha, sobre a saia.... vou fazer o seguinte: vou preparar um tutorial de um modelo bem fácil. Assim eu te ajudo e faço uma média com minhas seguidoras. Que tal?

Bisou bisou,
Vivi Basile

Carina disse...

Adoro seu blog!!!! Sigo sempre... leio tudo... reflito bastante. Nem sempre chego a um veredito.
Sobre esta questão, me sinto da mesma forma, quando me deparo com certos conhecimentos que me formaram como pessoa.
Fico preocupada com esta nova geração... os "Y". Trabalho com uma turminha jovem de 19 a 25 anos e me deparo com a falta destes conhecimentos básicos que permitiram a formação de jovens vazios, sem perspectiva, sem bagagem e o pior... sem querer aprender.
Armazenar conhecimento para que? O Google é meu pastor e nada me faltará. Tudo é passageiro, tudo pode estar nas nuvens, porque ocupar espaço do meu cérebro? Que sujeito está sendo formado?
Nada é lembrado. O que é dito hoje, amanhã já é esquecido e tem que ser aprendido novamente.

monica disse...

Adorei o texto. Mast b adorei encontrar alguém que, assim como eu, comia Kri.

RC disse...

Chamar Crunch de Kri é entrega total. Pior que chamar Milkybar de Lollo.