terça-feira, maio 29, 2007

The french et les americaines

Quando a pessoa viaja para a França, todo mundo avisa: aprende pelo menos “parlez-vous anglais, s’il vous plaît?”, porque francês odeia quem já chega falando inglês. E todo mundo comenta a rixa que eles têm com os americanos e com os ingleses, o orgulho nacional que é a língua francesa. Pois quer saber da maior? Isso já era. Falar inglês, elogiar os Estados Unidos, conhecer Londres a fundo – tudo isso está muito na moda em Paris. Entre os mais velhos, talvez – mas entre os jovens, não há hipótese de alguém te tratar mal se você arriscar seu inglês ao pedir um sanduíche em um ponto turístico francês. Mais possível é acontecer o contrário: você ensaiar seu francês de rótulo de vinho e ele te responder em um inglês cheio de sotaque (te deixando bem à vontade para continuar a conversa in a more comfortable way). Interpretação política e sociológica: os franceses cansaram de sua torre de marfim e resolveram cair de boca no mundo capitalista (prova cabal disso: a eleição do Sarkozy). Minha livre interpretação: é muito moderno ser do contra. Então lá vão eles, misturando inglês com francês para dizer que alguma coisa é "trés-cool", usando todo tipo de expressões americanescas em suas matérias jornalísticas, afrancesando o anglo-saxão “the”, que virou “ze” no nome de restaurantes e lojas. Sem falar no último item fashion que começa a aparecer pelas ruas de Paris : nada mais, nada menos que a famosa camiseta I love NY.
Que fique claro que nada disso isenta nenhum turista de um pouco de educação. Quer uma dica? Comece as conversas com “excuse-moi” e “pardon”, termine com “merci beaucoup” e “a bientôt” e capriche no inglês entre esses dois momentos. Satisfação garantida – or your money back, baby.

domingo, maio 27, 2007

Vou te levar comigo

Os amigos nos convidam pra um passeio, uma festa ou um show ao ar livre. A gente pergunta: dá pra levar os bebês? É assim a nossa vida. Queremos, sim, sair, conhecer os lugares, passear. Mas achamos sempre meio estranho deixar nossos pequenos pra trás. Não é questão de necessidade, ou de obrigação. É prazer mesmo. Sabe aquela imagem clássica da mãe do Calvin indo jantar com o super-coxinha pai do Calvin, deixando o pequeno filósofo e seu tigre Haroldo por conta de uma estudante de seus 19 anos? Não combina muito com a gente. Uma babá pros momentos de necessidade vá-lá, mas como assim?, pagar alguém para cuidar deles enquanto a gente se diverte? A gente quer é se divertir com eles. Passeios a pé, piqueniques, uma voltinha no shopping, visitas parceladas aos museus e às livrarias – e eles lá, na mochilinha. Uma cerveja em pé no barzinho com o Pepê sentado no balcão, um chocolate quente com cuidado pra não queimar a cabeça do João e, com um pouco de ousadia, até uma one-day-trip pro país vizinho. Dar papinha na mesa de um pub, trocar fraldas no banco apertado da estação de trem – uma aventura atrás da outra, diversão garantida. Pra gente, pelo menos. Porque o problema desse nosso lifestyle são os outros – que nem sempre acham graça em ter a companhia de bebês em lugares insólitos. Bebês são bebês: quando eles têm sono, ou fome, ou quando simplesmente estão de saco cheio e querem voltar pra casa, os bebês... choram. E os outros, que não têm nada a ver com eles, também não têm nada a ver com o escândalo deles. Eu fico chateada, mas ouço calada as manifestações ostensivas de irritação que nos acompanham pela estrada afora. E fico depois pensando quem será que tem razão – se os outros são mesmo uns mal-humorados incapazes de compreender com solidariedade quinze minutinhos de choro histérico, ou se sou eu que me porto como uma adolescente frustrada, que ainda não caiu a ficha no papel de mãe. Prova que meu dilema é universal é que hoje existem em todo canto cafés e até boates especializadas em eventinhos para famílias com bebês se divertirem com eles ao lado. Mas isso me soa meio como um gueto onde querem nos isolar com nossos pequenos escandalosos. Por minha conta, eu preferia mesmo era estar no meio do mundo, junto com as pessoas normais.
Ah, vai... Deixa a gente levar os bebês?

segunda-feira, maio 21, 2007

Inveja branca

Eu moro em Paris. Fato. Quando eu saio pra passear, eu vou em Saint Germain de Prés, no Marais, na Rue de Bac, dou uma voltinha em Les Halles. E eu não tô tirando onda. Eu só moro em Paris. É engraçada a reação das pessoas quando elas sabem que a gente mora aqui. O imaginário da gente em relação a essa cidade é muito louco. As pessoas devem pensar que todo mundo que mora aqui freqüenta a Louis Vuitton, só veste Kenzo e Prada, almoça e janta escargot. E-ei, vamo-acordar?, como diria aquele comercial de carro que eu adoro. A minha vida aqui é idêntica à de três meses atrás, quando saí de Brasília. Eu passo a maior parte do tempo brincando com os pequenos, trocando fraldas, dando comida, fazendo eles dormirem. Quando sobra um tempinho (e quando o tempo ajuda), a gente passeia um pouco – e é, sim, em Saint Germain de Prés, no Marais, na Rue de Bac. Mas eu não tô tirando onda. Eu só dei a sorte de morar em Paris.

sexta-feira, maio 18, 2007

quinta-feira, maio 10, 2007

Outra pessoa

Não sei se foi a chegada dos meninos, a entrada na década balzaquiana ou a mudança de continente – mas eu não sou mais a mesma pessoa. Sabe a mocinha moderna, antenada e um pouco blasé que eu sempre tentei ser? Ela não existe mais. Aqui, o que existe é uma pessoa mãezinha, dona-de-casa e força-amizade. Moderna, ainda, mas super, super mulherzinha. Primeiro, eu venci o preconceito contra a hidrogestante. Depois de ter dedicado minha existência a esculhambar quem achava que “fazer hidro” era praticar esporte, eu me tornei uma das mais assíduas e entusiasmadas alunas da hidrogestante – que, vamos combinar, é a única aula do mundo que consegue ser ainda mais fraquinha do que a hidroginástica tradicional. Já tratei do assunto antes: de como, depois de muito resistir, eu troquei meus papos suuuper antenados sobre moda e política para me tornar uma mãe verdadeiramente monotemática, colecionadora de telefones de fornecedores de protetor de berço e capaz de indicar uma dezena de livros sobre a maternidade. Pois hoje eu fui mais além rumo à mulherzice total. Depois de ter recebido um recadinho da vizinha convidando pra conhecer os colares que ela vende, eu fui. Eu, que sempre critiquei os momentos-força-amizade. Eu, que sempre abominei a interação obrigada com pessoas desconhecidas. Eu, que odeio café – fui à casa da vizinha de baixo e tomei um expresso com ela (uma espanhola muito, muito simpática) e duas senhoras que prometem me ajudar a encontrar uma creche pros meninos. E, quer saber?, foi ótimo.

terça-feira, maio 01, 2007

E hoje é dia...

Sim, viver em Paris significa comer baguetes aos montes, tomar vinho francês (do bom) a cinco euros, comprar L’Occitane na lojinha da esquina – mas também significa conviver com as manifestações populares. Muitas, várias, pelos mais diversos motivos, afetas às mais diferentes populações do planeta. Quando eu cheguei, achava isso o máximo. Achei legal nossa linha do metrô entrar em greve . E uma vez, na praça da Bastilha, quis me juntar a um monte de portugueses que pediam alguma coisa que eu não tinha a menor idéia do que era. Mas agora acho que mudei de opinião. Nós moramos a duas casas da embaixada do Vietnã. Sábado passado, umas trinta pessoas (de acordo com a Polícia Militar, pelas contas dos manifestantes eram pelo menos cem) passaram a tarde gritando pela libertação de uma religiosa, presa pelo governo vietnamita. Gritando, claro, em vietnamita. No fundo musical, um estridente canto vietnamita – que parecia uma marcha militar escandalosa. Você não tem idéia do que é passar três horas ao som de músicas vietnamitas nas alturas, e com dois vietnamitas se alternando ao megafone (um homem e uma mulher, ela muito mais histérica que ele). Conversando, eles parecem estar brigando – manifestando, então, você calcula.
Sei lá se a religiosa foi libertada no final das contas – mas que a manifestação rendeu, rendeu. Pelo menos para os policiais franceses, que passaram horas conversando e comendo pain-au-chocolat, olhando os manifestantes de longe. E para dois certos bebês, que passaram a tarde toda acordadinhos da silva. Pior é que o dia de hoje, meus caros, promete.